Quase-homens
Pareciam três homens numa mesa de bar. Eram, no entanto, crianças. Sim, porque não entendiam nada da vida, deslumbravam-se com pequenas descobertas e despencavam às primeiras desilusões. E ontem era dia de ir ao chão, rastejar rente ao roda-pé, sem forças para erguer-se, tampouco para pronunciar uma palavra sequer.
Olhavam para copos vazios, ocos eles também. Perceberam-se apenas invólucro, pote repleto de lágrimas, ampulheta ativada por dores. Ao secarem, contudo, começavam a ficar um pouco mais fincados ao chão. A tristeza os afastaria dos cheiros e dos gostos da infância. E um dia seriam homens, em torno de uma mesa de bar.
Ontem, no entanto, apesar dos trabalhos estressantes, das responsabilidades sociais, das barbas mal feitas e dos olhos caídos, eram ainda meninos. E eram apenas Fábio, Lucas e Dudu, porque Marcelo nunca mais estaria ali, nem em nenhum outro lugar. Lembrando da vida compartilhada desde cedo, em travessuras, estréias e etapas, eles iam notando que já não eram os mesmos. Também não haviam se tornado tudo aquilo que projetavam ser.
A falta de Marcelo pesava como se nunca mais nenhum plano pudesse se realizar. Provocava sensações embaçadas sobre o passado, as faltas, os deslizes, as promessas que, juntos, deixaram de cumprir. Tudo que poderia ter acontecido, mas perdeu-se em dias corridos, enquanto eles fingiam ser homens.
Agora, nenhuma mesa de bar estaria completa. Eles, aos poucos, foram enchendo seus copos, seus pulmões, erguendo o corpo, retomando as palavras. Colecionariam tristezas até o fim. No caminho, descobriram que poderiam sempre voltar no tempo, recuperar sorrisos, brincadeiras e histórias, de quando não tentavam ser homens. Eram apenas quatro meninos, em um mundo tão mais fácil.