Amazônia: conhecer, preservar, desenvolver…
“Da altura extrema da Cordilheira, onde as neves são eternas, a água se desprende e traça um risco trêmulo na pele antiga da pedra: o Amazonas acaba de nascer. A cada instante ele nasce. Descende devagar, sinuosa luz, para crescer no chão. Varando verdes, inventa o seu caminho e se acrescenta. (…) Planície que ocupa a vigésima parte da superfície deste lugar chamado terra, onde moramos. Verde universo equatorial que abrange nove países da América Latina e ocupa quase metade do chão brasileiro” (MELLO, Thiago, 1984, p. 427). “Mas contigo traz amor, para com dor aprender” “A este universo de água e de terra, de rio e de selva, chegou o homem. É recente a sua chegada. Só há dez mil anos, já sabem os cientistas, chegaram os índios à Amazônia e dela fi zeram a sua morada. É, portan-to, esse o tempo de sua fundação, do seu verdadeiro começo: o homem chegando para permanecer e para amar” (Ibid, ibidem, p. 428). “Iniciado há cinco séculos, o seu descobrimento ainda não terminou”
“Depois outros chegaram. Os chamados brancos, com a cruz e o arcabuz, e o sangue que ia ajudar a compor uma nova etnia, ao longo de quatro séculos de aventura humana. Aventura que se prolonga, ainda hoje, marcada pelo signo do desamor. Só que mais feroz. Extração, saque, destruição, extermínio” (Ibid, ibidem, p. 428-9).
“Eram toras e toras cobrindo grande extensão…”
“Cada dia aumenta mais o desflorestamento. A floresta amazônica, fragmentada em toros de madeira, espremida na superfície dos compensados, hoje é levada para todos os lugares do mundo. Sucede que tantas vezes ela é simplesmente devastada, consumida pela ganância, que não pode perder tempo, das grandes empresas agropecuárias” (Ibid, ibidem, p. 439).
“A extração continua…”
“Olha aqui comigo, mesmo de relance, a marca funda, conquanto suja, que deixou na vida e na alma da Amazônia a qualidade das seivas e gomas elásticas da selva. A borracha. A famosa Hevea brasiliensis, fundamento de todo um período histórico da vida social e econômica da região, durante o qual a Amazônia conheceu extremos de opulência e de miséria” (Ibid, ibidem, p. 436). “No céu dos índios (…) já se apagaram as últimas estrelas…”
“Eles eram mais de um milhão quando aqui chegou o colonizador europeu. De extermínio em extermínio, depois de quatrocentos e tantos anos, hoje eles não chegam a cinqüenta mil. E, desses, quase todos já perderam, feridos fundamentos na essência dos valores de sua etnia, a sua própria condição de índios. Uns poucos ainda resistem…” (Ibid, ibidem, p. 449).
“Agredida, violentada, a floresta se defende…”
“Defende-se com os poderes de encantamento dos lendários habitantes da selva. O matita-pereira, o curupira, o mapinguari. (…) Mas a floresta, sobretudo, se defende com a sua fauna, que dela faz morada e cidadela. A fauna defende a flora e se defende” (Ibid, ibidem, p. 446-7). “(…) então sorriu, era um sorriso, sim, o sorriso mais dolorido que já vi”
“É principalmente nas crianças que se percebe a marca maligna que vinca a vida do habitante humano do interior da Amazônia: a marca da subnutrição. Rodeado de luz, o ser se encolhe na sombra cavada pelo que lhe faltou” (Ibid, ibidem, p. 457).
“Maior e mais antiga que a da floresta é, contudo, a devastação do seu habitante humano”
“O caboclo, o ribeirinho, o homem do interior. O cativo resignado. (…) Subo o barranco e entro num galpão de palha e chão de barro batido: é uma casa de farinha. Lá dentro encontro duas caboclas trabalhando, crianças espalhadas ao redor. (…) São magras, a pele tostada de sol, os zigomas salientes, os cabelos lisos e negros caindo nos ombros. No fundo das pupilas, o brilho sinistro da fome. Contudo, são ágeis essas duas mulheres. Os braços se movem, bailando no ar…” (Ibid, ibidem, p. 453).
“A Amazônia já não é mais a região misteriosa de antigamente, um exótico celeiro de lendas”
“Muito dela ainda está por ser descoberto. Mas muito já se sabe. (…) De muita ciência ainda se precisa para alcançar o conhecimento de técnicas que favoreçam o uso justo e adequado. Mas não só de ciência. É de consciência a nossa precisão maior. (…) para ajudá-la a viver, a fim de que ela possa ajudar melhor o homem, quero dizer, a humanidade” (Ibid, ibidem, p. 458-9).
EDIÇÃO 90, JUN/JUL, 2007, PÁGINAS 38, 39, 40, 41, 42