A parte brasileira da Amazônia, Amazônia Legal, corresponde a 61% da área total do país. Essa região concentra extraordinária biodiversidade, ricas jazidas de minérios, cerca de 20% das reservas mundiais de água doce e abriga a maior floresta tropical úmida do planeta. Nela vivem 12% dos brasileiros.
Essa região – por tais dimensões de riqueza – se impõe como parte destacada do projeto nacional de desenvolvimento. Para alguns, erroneamente, para preservá-la é necessário colocá-la à margem do desenvolvimento, e outros entendem “desenvolvimento” como saque e destruição. O engate pleno da Amazônia nesse projeto demanda tarefas sinérgicas e múltiplas por parte do estado e do governo que poderiam ser sintetizadas em quatro verbos: defender, conhecer, preservar e desenvolver.

Como diz o professor Ennio Candotti, da SBPC, é preciso uma espécie de “chamada geral” em prol da Amazônia a partir da consciência de que se trava uma “guerra” na região. Ao justificar a realização, em julho de 2007 – na Amazônia, em Belém – da Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) afirma tratar-se de “um dever nacional” colocar a Amazônia na pauta política e resolvê-la com a maior brevidade. “Antes que outros resolvam por nós”.

Possuidora de tamanha riqueza, ela é alvo da cobiça do imperialismo. Diferentes argumentos são utilizados para saquear ou piratear seus tesouros, questionar e ameaçar a soberania brasileira sobre ela.

Tais ambições apresentam-se, na atualidade, camufladas num falso discurso ambiental e na surrada, porém enganosa, tese da “Amazônia, patrimônio da Humanidade”. Salvaguardá-la das ameaças e de perigos de toda espécie emanados do expansionismo das grandes potências é um dever do Estado nacional. Defender a Amazônia tem uma dimensão de segurança que se expressa numa política e na presença das Forças Armadas na região. Mas, a sua defesa vai muito além da dimensão militar.

Conhecer a Amazônia é um desafio que persiste. E o alarmante é constatar haver 70% de trabalhos científicos sobre a Amazônia de pesquisadores de outros países. Conhecê-la bem mediante os diferentes domínios das ciências. Isso exige aumentar a pesquisa nacional sobre a região. Demanda fortalecer as universidades e centros de pesquisa da Amazônia. Formar jovens cientistas e recursos humanos indispensáveis à produção de soluções originais que a região exige. Valorizar o conhecimento tradicional da população indígena e ribeirinha. O Brasil desenvolver o conhecimento sobre a Amazônia é, também, um dos principais antídotos contra a biopirataria.

Conhecê-la para preservá-la e desenvolvê-la! Não usufruir suas riquezas sob o argumento de que o desenvolvimento a depredará, além de efetivamente, não protegê-la, seria negar ao país e ao povo o acesso a uma riqueza que lhes pertence e, simultaneamente, manteria tal riqueza como uma reserva resguardada num “santuário” para o saque das grandes potências no tempo que lhes for conveniente.

Desenvolvimento a serviço do interesses nacionais e da elevação da qualidade de vida do povo brasileiro, em especial, da população local. Tantos números gigantescos se chocam com a miséria da população amazônica e com a violência de que é vítima. O mundo do trabalho na região é marcado pela diversidade e pelo contraste. Ilhas de prosperidade e expansão da agroindústria e, ao mesmo tempo, presença do trabalho escravo e grande número de conflitos de terra patrocinados pelo latifúndio.

Na Amazônia Legal há 57% do total das terras indígenas e mais de 30% da população indígena do país, o que exige do Estado nacional enfrentar o desafio de – como determina a Constituição – compatibilizar os interesses nacionais com os direitos dos povos indígenas.

EDIÇÃO 90, JUN/JUL, 2007, PÁGINAS 3