– Bóra caçá rolinha?

      – Quero não…

      – Então bóra lá na Panela.

      – Fazê o que lá?

      – Chupá dedo! Ora, onde já se viu! O qué que se faz na Panela, me diga?

      – Não sei se quero nadar. Aquela água saloba..

      – Oxe, que você não qué é nada! Enjôo da bixiga!

      Josias estava contrariado. O amigo vinha numa má vontade com tudo. Não tinha brinquedo que prestasse. Até roubar manga fora enjeitado pelo parceiro – que sempre fora assim, meio arredio, difícil de trato, cheio de vontades, mas que, ao cabo de alguma adulação, sempre topava uma coisa ou outra. Mas hoje, arre!, que o sujeitinho tava era impossível.

      – Jusia.

      – Hm.

      – Você já sentiu um aperto assim no peito? Uma gastura de não sei quê, que não explica, nem sabe o que é, mas desconfia?

      Josias olhou o amigo de lado. Sempre o achara esquisito. Não sabia explicar, apesar dos oito anos bem vividos, por conta de quê andava de amizade com ele. Vai ver que era porque ele era mais velho. E era assim bonito, de uma beleza triste, de santo.

      Gostava de santo. Ia à igreja só pra ver as estátuas. Também apreciava por demais as estampas. Agradava-lhe sua leveza; as cores quase transparentes.

      – Sabe, eu tô sempre com essa gastura – continuava o amigo -, mas tem dias que ela tá grande, parece que fica assim empurrando o peito por dentro. Você sente isso também?

      – Rapaiz, quando me vem isso, sabe o que eu faço? Solto uma bufa. Passa num instante.

      Abriu-se numa gargalhada artificial. Mas logo viu nuvens no semblante do companheiro. Ficasse calado, não tava com o a cara assim, pegando fogo, a boca mexendo, pejado de vergonha.

      O amigo se levantou. Mudo, limpou os fundilhos com as mãos, catou o bodoque e, lenta, mas firmemente, se retirou.

      Nunca mais se falaram, desde então.