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    Comunicação

    Vida-lida

    Em Babaçulândia vidas somem nas matas à busca de coco agreste. Da safra sáfara se tira um pouco – quase nada que sustente a fome de tanta gente. Escravos da precisão do nascimento à velhice, têm olhos tristes, em que resguardam um certo jeito de não perder a alegria – o luto em que se […]

    POR: Redação

    2 min de leitura

    Em Babaçulândia
    vidas somem nas matas
    à busca de coco agreste.

    Da safra sáfara
    se tira um pouco
    – quase nada que sustente
    a fome de tanta gente.

    Escravos da precisão
    do nascimento à velhice,
    têm olhos tristes, em que
    resguardam um certo jeito
    de não perder a alegria
    – o luto em que se morre
    de viver do mínimo.

    Por aquelas bandas
    o tempo é propício
    a fabricar meninos
    com tristes sinas
    e trágicos destinos.

             II

    Nas vastas paisagens
    do Maranhão e Tocantins
    vidas são alquebradas
    em quebrar coco de babaçu:
    espécie de inferno verde
    a alargar-se para onde
    alcancem as vistas.

    São vidas estreitas
    a gastar os dias no quebradio
    que é o seu jeito
    de plantar coragem
    no cinzento dos dias.

           III

    Duro é o coco
    com que se batem
    homens e mulheres.
    crianças entram na lida
    dos dias esturricados
    e tornam-se duros
    como o nó
    da madeira mais seca.

    Mesmo humildes e anônimos
    cantam e dançam
    quando as festas chegam.
    canções de bumba meu boi
    não lhes faltam
    já que o mais
    nunca chega.

    Meninos brincam
    com tal leveza
    que nem se nota
    sua pobreza.

    De pés descalços,
    fazem do coco
    brincadeira de rodar pião
    ou fazem folhas
    de aves ilusórias
    – de um vôo tão estreito
    como os que vivem do eito.

    Tudo é desespero e esperança
    nos gerais onde a vida
    é vendida à vista
    para comprar-se a morte
    a prestações. 

     Brasigóis Felício, é goiano, nasceu em 1950. Poeta, contista, romancista, crítico literário e crítico de arte. Tem 36 livros publicados entre obras de poesia, contos, romances, crônicas e críticas literárias.