A noite descia e a sombra tragava os cantos; fechava o cerco que tudo apaga.

      Depositou a matula no quartinho dos fundos. Lá estavam sua cama, com o mesmo colchão suado, coberto pelo lençol puído, e o criado-mudo, com a mesma gaveta empenada. Soalho de piso frio, paredes nuas, cobertas de tempo. Atrás da porta, um cabideiro para as roupas.

      Impactado pela visão de Maria – carnes rijas por sob o vestido curto; olhos de gata descansada -, permanecia parado no meio do cômodo, em busca de uma saída.

      Lembrou-se duma pescaria com Bento, os peixes debatendo-se na asfixia. No entanto, alguns, parece que só vibravam, tremelicando, a cauda a acenar lentos e irregulares adeuses no vazio.

      Sentiu fome. Há dias que não sentia. Pensou em frango ensopado. Sem mediações, viu diante de si as galinhas dessangradas por Dona Maria: a cabeça presa nas mãos de torniquete da velha, o sangue escorrendo para a cuia, a ave estertorando em pulsos cada vez mais imperceptíveis.

      Dirigiu-se  à cozinha. Encontrou-a vazia. Na mesa, um prato coberto. Sentou-se. Levantou o prato a modo de tampa: arroz, feijão, farofa de ovo, carne de panela. Diante de si, uma moringa, com um copo de alumínio emborcado sobre gargalo.

      A velha, ou Maria?

      Jantou.

      No retorno para o quarto, foi recolhendo todos os perfumes que ela deixara pela casa.