Logo Grabois Logo Grabois

Leia a última edição Logo Grabois

Inscreva-se para receber nossa Newsletter

    Comunicação

    Balada

    (Em memória de uma poeta suicida)   Não conseguiu firmar o nobre pacto Entre o cosmos sangrento e a alma pura. Porém, não se dobrou perante o fato Da vitória do caos sobre a vontade Augusta de ordenar a criatura Ao menos: luz ao sul da tempestade. Gladiador defunto mas intacto (Tanta violência, mas tanta […]

    POR: Redação

    2 min de leitura

    (Em memória de uma poeta suicida)

     

    Não conseguiu firmar o nobre pacto
    Entre o cosmos sangrento e a alma pura.
    Porém, não se dobrou perante o fato
    Da vitória do caos sobre a vontade
    Augusta de ordenar a criatura
    Ao menos: luz ao sul da tempestade.
    Gladiador defunto mas intacto
    (Tanta violência, mas tanta ternura),

    Jogou-se contra um mar de sofrimentos
    Não para pôr-lhes fim, Hamlet, e sim
    Para afirmar-se além de seus tormentos
    De monstros cegos contra um só delfim,
    Frágil porém vidente, morto ao som
    De vagas de verdade e de loucura.
    Bateu-se delicado e fino, com
    Tanta violência, mas tanta ternura!
    Cruel foi teu triunfo, torpe mar.
    Celebrara-te tanto, te adorava
    Do fundo atroz à superfície, altar
    De seus deuses solares – tanto amava
    Teu dorso cavalgado de tortura!
    Com que fervor enfim te penetrou
    No mergulho fatal com que mostrou
    Tanta violência, mas tanta ternura!

    Envoi

    Senhor, que perdão tem o meu amigo
    Por tão clara aventura, mas tão dura?
    Não está mais comigo. Nem contigo:
    Tanta violência. Mas tanta ternura.

     

    Mário Faustino
    O homem e sua hora e outros poemas
    Pesquisa e organização: Maria Eugenia Boaventura
    Editora Companhia das Letras – edição 2002