O jardim estava em rosa ao pé do Sol
E o ventinho de mato que viera do Jaraguá,
Deixando por tudo uma presença de água,
Banzava gozado na manhã praceana.

Tudo limpo que nem toada de flauta.
A gente si quisesse beijava o chão sem formiga,
A boca roçava mesmo na paisana de cristal.

Um silêncio nortista, muito claro!
As sombras se agarravam no folheto das árvores
Talqualmente preguiças pesadas.
O sol sentava nos bancos tomando banho-de-luz.

Tinha um sossego tão antigo no jardim,
Uma fresca tão de mão lavada com limão,
Era tão marupiara e descansante
Que desejei… Mulher não desejei não, desejei…
Se eu tivesse ao meu lado ali passeando
Suponhamos Lênin, Carlos Prestes, Ghandi, um desses!…

Na doçura da manhã quase acabada
Eu lhes falava cordialmente: – Se abanquem um bocadinho.

E havia de contar pra eles os nomes dos nossos peixes,
Ou descrevia Ouro Preto, a entrada de Vitória, Marajó,
Coisa assim, que pusesse um disfarce de festa
No pensamento dessas tempestades de homens.

São Paulo, 18 de março de 1928.

 

 

Laércio Souto Maior
Luiz Carlos Prestes na Poesia – Contendo estudo da saga prestista, antologia poética, iconografia e cartas.
Travessa dos Editores – Sesquicentenário
1ª edição 2006.