Logo Grabois Logo Grabois

Leia a última edição Logo Grabois

Inscreva-se para receber nossa Newsletter

    Comunicação

    Mistério Bufo

    Por nós clamava a terra com som de canhão urrante. Por nós inchavam-se os campos, embriagados de sangue. Estamos aqui, expulsos das entranhas da terra pela cesariana da guerra. Estamos glorificando a ti, dia de insurreições. de rebeliões, de revoluções – a ti que passas, esmigalhando cabeças! Do nosso segundo nascimento, o dia. O mundo […]

    POR: Maiakóvski

    2 min de leitura

    Por nós clamava a terra com som de canhão urrante.
    Por nós inchavam-se os campos, embriagados de sangue.
    Estamos aqui,
    expulsos das entranhas da terra
    pela cesariana da guerra.
    Estamos glorificando
    a ti,
    dia
    de insurreições.
    de rebeliões,
    de revoluções –
    a ti
    que passas, esmigalhando cabeças!
    Do nosso segundo nascimento, o dia.
    O mundo amadurece.
    Acontece –
    ancora um navio ao longe,
    solta fumaça
    e, pelo espelho d’água, foge,
    por muito se respira a fumaça das lendas baças, –
    era assim que a vida fugia de nós até hoje.
    Para nós foi preparado
    o Evangelho, o Alcorão
     “O paraíso perdido e reencontrado”,
    e outros
    e outros
    inúmeros contos de fada.
    Todos prometem a alegria do além, – inteligentes, espertos.
    Aqui,
    na terra querermos
    viver
    nem acima,
    nem abaixo
    de todos estes pinheiros, casas, estradas, cavalos e ervas.
    Enjoaram-nos as gulodices do céu –
    deixem-nos comer o pão à vontade!
    Enjoaram-nos as paixões de papel! –
    deixem-nos viver com mulher de verdade!
    Lá,
    nos vestiários dos teatros
    lantejoulas, a roupa fulgura
    e capas mefistofélicas,   
    é tudo que se pode achar!
    Empenhava-se o alfaiate velho: não para nossa cintura.
    Então,
    que seja desajeitada
    as roupa –
    mas nossa.
    Agora é nosso o lugar!
    Hoje,
    sobre a poeira dos teatros,
    irrompe nosso rasgo:
    “Tudo de novo!”
    Pare e fique pasmo!
    Pano, povo!

     

    Dispersam-se. Esgarçam o pano, borrado com as relíquias do antigo teatro.

     

    Vladimir Maiakóvski – Mistério Bufo – um retrato heróico, épico e satírico da nossa época (1918)
    Tradução de Dmitri Beliaev
    Editora Musa – edição 2000.