É muito, muito triste e angustiante, mas, infelizmente, de uma evidência inquestionável, constatar a  enorme dificuldade de um país como o nosso em superar o subdesenvolvimento socioeconômico. Que reside em um motivo que tem raízes profundas: a deficiência de politização do povo. Que é conseqüência da ignorância institucionalizada. Que é devida ao confinamento social atávico de um volume desproposital da população oprimida pela pobreza, quando não pela miséria. Incapacitada, inclusive, de exigir seus direitos e cumprir suas obrigações.

      Intencionalmente usei, no título, dois termos que são conceitualmente sinônimos: politização que vem da raiz grega polis (cidade) e cidadania que vem da raiz latina civitas (também cidade). Essas duas raízes geraram, como é fácil identificar, uma vasta gama de termos, ora mais, ora menos universais e abrangentes, mas todos eles vinculados a um conteúdo que enfoca a formação e/ou o comportamento de sociedades humanas.

      Deixando de lado a tentação de falar dos gênios da Antiga Grécia que há mais de dois milênios lançaram as bases dos ideais filosóficos da convivência social, que continuam insuperáveis na Era Moderna, podemos constatar que apenas poucos países chegaram, hoje, à maturidade plena para se governarem pelo binômio politização/cidadania (algumas Nações do norte da Europa). Outros estão na fila, já próximos. Outros estão distantes ou até muito distantes, como é o caso do Brasil, apesar de alguns investimentos governamentais para melhorar o desequilíbrio entre as classes sociais.
 
      Brasil, Brasil! Um país tão grande e tão encolhido no panorama mundial. Tão fabulosamente rico e tão humilhantemente pobre. Tão belo e privilegiado pela natureza e tão aviltado pelo egoísmo dos privilegiados. Tão pacífico e risonho pela índole do seu povo e tão tristonho pela vida difícil das classes oprimidas. (Brasil, país dos contrastes: uma qualificação pitoresca dispensável que só serve para turista ver!)

      Mas já que estou pisando em um terreno que não costumo explorar nos meus artigos, sinto-me na obrigação, agora, de imaginar algum caminho de redenção, uma vez que simplesmente denunciar não basta. Aliás, não é preciso imaginar o que todo o mundo já sabe: não será a classe política que a toda hora fala, só fala, em cidadania (que o povão não sabe o que é), nem será ela que se camufla atrás de uma dúzia de siglas partidárias abstratas, que não representam e não se confrontam com nenhuma ideologia concreta, a legitima interessada em politizar os analfabetos e semi-analfabetos. Somente a sociedade civil, a classe média, com espírito altruísta e desprendimento de qualquer outro interesse poderá se empenhar em cumprir esse esforço de redenção, a começar pela educação básica. Eu sei, é claro, que já existe uma porção de gente fazendo isso em nome de grupos, associações, entidades etc., mas quando a gente vai cavocar para descobrir eventuais interesses escusos dessas ações “voluntárias” descobre-se facilmente intenções de catequeses de todo tipo, a começar pelas de cunho religioso.

      Para finalizar, gostaria de lembrar que qualquer gesto de apoio, de qualquer natureza, dirigido a esta classe muitas vezes chamada hipocritamente de desfavorecida deve ser caracterizado como uma forma digna de solidariedade e de incentivo a uma colaboração voluntariosa. Nunca caracterizada como uma forma de caridade. Felizmente, já vai longe o tempo em que essa “bondade” era considerada uma virtude. Como diz aquele verso, tão nordestino quão emblemático, de um necessitado socorrido por uma esmola: “…que lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão.” 
   

 

PS – Como sempre acontece, há exceções admiráveis. Fazendo parte de um punhado de políticos que defendem como absoluta prioridade a educação para o resgate da pobreza, está um colaborador desta página de uma estatura intelectual invejável. Não cito o nome dele, como não citei de nenhum político atuante, pois foi meu desejo que a matéria não assumisse nenhuma coloração eleitoreira.