Bento, mal soube da chegada do amigo, correu à casa de dona Maria. Chegou logo perguntando por ele. Com um gesto de cabeça, a velha indicou o quarto dos fundos.

      Lá se foi o nêgo.
 
      Bateu na porta. Abriu-a um espectro. Bento meio que tomou um susto. Quem era aquele? Embrulhou o estranhamento num sorriso seu:

      – E aí, rapá? Quanto tempo!

      Abraçou o amigo, que retribuiu com um aperto breve, forte e reconhecido.
 
      – Oxente! – diz Bento. – Por que cê não abre essa janela, rapaz? Isso aqui tá cheirando a cova! – foi dizendo e foi abrindo as venezianas.
 
      – Tá muito sol lá fora. O calor entra e esquenta aqui dentro.
 
      – Você e suas histórias. Não perdeu a mania de viver encafuado. Me diga: de onde tá vindo?
 
      – Do sul.
 
      – Sul daonde?
 
      – Do Brasil, ora.
 
      – E o que você foi fazer tão longe, rapá?

      Silêncio. Bento já conhecia o amigo. Outra coisa ele não tinha feito na vida do que buscar alguma coisa fora dali, daquele quarto, daquele bairro, daquela sua vida. 
 
      – Achou? – pergunta.
 
      – O quê?
 
      – O que saiu daqui pra procurar!
 
      Novo silêncio. Bento seguiu seu olhar e foi dar com ele no quintal, cismando as galinhas.
 
      – Mais tarde passo aí pra gente tomar umas. Vou nessa.
 
      Não sabia se ia passar mesmo. Mas tinha que dizer alguma coisa. Ao contrário do filho de dona Maria, desde menino, não gostava de silêncios.