Palavra por palavra
Gota a gota se faz o Amazonas
Discurso aqüífero na árvore
Das palavras.

O rio sobe pelas folhagens
Para a cabeceira das chuvas
Nuvens são esponjas
Carregadas de lendas
Estirões de sonhos
Apascentam boiadas
E fazendas pelo ar.

Grande é o dia da viagem
O sol que não se põe
Na tarde
A primeira noite do mundo
que não chega nunca.

A boca da noite dá notícia
Da lua nova
O remador cansado
Mede a distância
Pela proa da canoa:

“O remo entra n'água
A água entra na alma.”

A correnteza se acalma
O tempo muda o poema.

 
Belém, 23/11/2007