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    Comunicação

    Testamento

    À prostituta mais nova do bairro mais velho e escuro, deixo os meus brincos, lavrados em cristal, límpido e puro… E àquela virgem esquecida rapariga sem ternura, sonhando algures uma lenda, deixo o meu vestido branco, o meu vestido de noiva, todo tecido de renda… Este meu rosário antigo ofereço-o àquele amigo que não acredita […]

    POR: Alda Lara

    1 min de leitura

    À prostituta mais nova
    do bairro mais velho e escuro,
    deixo os meus brincos, lavrados
    em cristal, límpido e puro…

    E àquela virgem esquecida
    rapariga sem ternura,
    sonhando algures uma lenda,
    deixo o meu vestido branco,
    o meu vestido de noiva,
    todo tecido de renda…

    Este meu rosário antigo
    ofereço-o àquele amigo
    que não acredita em Deus…

    E os livros, rosários meus
    das contas de outro sofrer,
    são para os homens humildes,
    que nunca souberam ler.

    Quanto aos meus poemas loucos,
    esses, que são de dor
    sincera e desordenada…
    esses, que são de esperança,
    desesperada mas firme,
    deixo-os a ti, meu amor…

    Para que, na paz da hora,
    em que a minha alma venha
    beijar de longe os teus olhos,

    vás por essa noite fora…
    com passos feitos de lua,
    oferecê-los às crianças
    que encontrares em cada rua…

     

    Poesia Africana de Língua Portuguesa (Antologia)
    Maria Alexandre Dáskalos, Livia Apa, Arlindo Barbeitos
    Lacerda Editores – edição 2003