“O animal mais perigoso”
A negatividade destrutiva acontece quando agimos em desacordo com as leis naturais, muitas vezes agredindo a natureza de modo selvagem e insano, uma vez que a nós mesmos não amamos ou respeitamos. Como esperar que alguém que não se conhece como sendo natureza venha amar e respeitar as espécies que nela vivem? Em si mesma, a energia é neutra, embora poderosamente criativa – nós é que a qualificamos, segundo a qualidade de nossos pensamentos, palavras e atitudes. Nós a transformamos em elemento negativo quando agredimos a natureza, em nós mesmos, nas outras pessoas, ou em outros seres vivos. Não nos sentindo conectados e integrados à nossa essência, não hesitamos em poluir os ambientes em que vivemos, bem como as fontes essenciais à continuidade da vida.
Por não saber amar ou respeitar a nós mesmos, agimos com hostilidade ou indiferença em relação aos de nosso convívio. Como esperar que não seja predador e poluidor cruel e insensato de animais, árvores e águas, quem se comporta de modo hostil ou indiferente em relação aos de sua própria espécie? Assim o Homo Sapiens vem se tornando o animal mais perigoso dentre todos os que vivem em nosso planeta. “Qual é a origem do mal que fazemos a nós mesmos?”, indaga o escritor Fábio Madureira, em seu livro Racionalidade na sabedoria popular.
Nesta obra, o escritor chama a atenção para a confusão que se faz entre desejo e vontade. Desejo é a pulsão emanada por nossa alma mais vasta, ao passo que vontade é o impulso que busca a satisfação sensorial imediata, não raramente descambando em voluntariedade narcisista: “Podemos buscar a satisfação de todas as nossas vontades, vivendo na contra-mão de nosso verdadeiro desejo”, assinala, verberando contra o discurso anti-prazer, que considera equivocada, uma vez que “Vida é prazer, que é muito diferente de alívio. A virtude se dá no mundo do prazer, ao passo que o vício acontece como busca de alívio”.
Se a luz vem a ser a virtude, a sombra pode se refugiar na busca insensata do alívio naquilo que não nos é essencial. Ou vem a ser a própria insurgência do mal. A luz e a sombra existem lado a lado. O rápido e descontrolado crescimento econômico fez a sombra da ambição ecocida preparar a tragédia da catástrofe ambiental, em escala planetária. Em todo este processo de insana destruição das fontes de vida faltou a energia positiva do amor. O fator essencial que pode, senão reverter, ao menos desacelerar o avanço do Armagedom ecológico, que ameaça a sobrevivência da raça humana, e do milagre da diversidade, que só puderam florescer em nossa frágil e bela Mãe Gaya.
Brasigóis Felício, é goiano, nasceu em 1950. Poeta, contista, romancista, crítico literário e crítico de arte. Tem 36 livros publicados entre obras de poesia, contos, romances, crônicas e críticas literárias.