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    Comunicação

    Roça

    A noite sangra no mato, ferida por uma aguda lança de cólera. A madrugada sangra de outro modo: é o sino da alvorada que desperta o terreiro. É o feito que começa a destinar as tarefas para mais um dia de trabalho. A manhã sangra ainda: salsas a bananeira com um machim de prata; capinas […]

    POR: Manuela Margarido

    1 min de leitura

    A noite sangra
    no mato,
    ferida por uma aguda lança
    de cólera.
    A madrugada sangra
    de outro modo:
    é o sino da alvorada
    que desperta o terreiro.
    É o feito que começa
    a destinar as tarefas
    para mais um dia de trabalho.

    A manhã sangra ainda:
    salsas a bananeira
    com um machim de prata;

    capinas o mato
    com um machim de raiva;
    abres o coco
    com um machim de esperança;
    cortas o cacho de andim
    com um machim de certeza.

    E à tarde regressas
    à sanzala;
    a noite esculpe
    os seus lábios frios
    na tua pele
    E sonhas na distância
    uma vida mais livre,
    que o teu gesto
    há-de realizar.

     

    Poesia Africana de Língua Portuguesa (Antologia)
    Maria Alexandre Dáskalos, Livia Apa, Arlindo Barbeitos
    Lacerda Editores – edição 2003