Havana teu novo velho sonho encontro
mais perto do teu ser original
(e tua ilha sempre deixa o Caribe)

bebo teu mar – o velho e o novo – nesse incêndio
teu fogo doce descubro no teu velho
um fogo que o novo ainda não apaga

Havana tua barba
suas léguas
de gris recobrem o chão do Malecón
onde há único e extremo ritmo num canhão

o velho habita as conchas, o novo
milita nas estrelas de Varadero
sem qualquer firmamento

Havana revejo nos amores de Martí
tua boa sorte palpitando
e a deixarei como está ao partir
numa vaga sob um velho céu
que ainda traz o mar seco
numa garrafa de rum que trago
uma velha mensagem solidária
um habana que acende e apaga
a noite aos golpes ásperos de minha língua
resiste ao tempo

no abrigo antiaéreo nenhuma sirena
vai dormir comigo.

 

Versos Ilegais – Ricardo Albuquerque
Águas Brasileiras Editora – edição 2001