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    Comunicação

    Bilhete aberto ao Presidente da República

    Excelência, Por causa da academia do peixe frito E universidade ancestral que se chama o Museu do Marajó Nós, os cabocos marajoaras extraídos do mato Sem cachorro Queremos aproveitar a maré No sítio Vermelho por intermédio deste nosso parente Versejador abaixo assinado na presente petição Talvez descendente dos Guaianás extintos Que algum dia habitaram a […]

    POR: José Varella

    6 min de leitura

    Excelência,
    Por causa da academia do peixe frito
    E universidade ancestral que se chama o Museu do Marajó
    Nós, os cabocos marajoaras extraídos do mato
    Sem cachorro
    Queremos aproveitar a maré
    No sítio Vermelho por intermédio deste nosso parente
    Versejador abaixo assinado na presente petição
    Talvez descendente dos Guaianás extintos
    Que algum dia habitaram a extinta aldeia das Mangabeiras
    Na beira da baía
    Viemos assim desviar vossa atenção só um minutinho:
    A modo dar notícia desta nossa ilha grande
    Entre chuvas e esquecimento
    A ver navios na boca do maior rio do mundo.

    Primeiramente a gente muito agradece
    A Vossa Excelência por ser o primeiro Presidente
    Do Brasil que ouviu nossas queixas
    E veio pessoalmente a Breves trazer resposta
    Ainda que brevemente ficasse
    no lugar onde carece conversar ao sabor da maré
    A explicar coisas e coisas da invenção d'Amazônia
    Brasileira nestas ilhas filhas da pororoca
    Sobretudo a paz do rio dos Mapuá
    Sem a qual não haveria brasileiros nestas paragens
    Mas porém a Amazônia é Nossa!
    Graças a Deus
    Por obra e graça do Divino Espírito Santo
    Ajudado nas terras-baixas por pajés do Jurupari
    Sítio universal do Quinto Império do Mundo
    Ou reserva da biosfera onde canta a saracura
    Hoje Reserva Extrativista que foi um dia improvisada igreja
    Do Santo Cristo consagrada pela Payaçu
    Antônio Vieira
    Ora ele mais vivo do que nunca
    Na glória dos seus 400 anos de nascimento.

    Nós estamos gratos ao Serviço do Patrimônio da União
    Por quebrar a servidão da gleba
    E garantir uso da terra ancestral aos ribeirinhos
    Legítimos ocupantes e descendentes dos Nheengaíbas
    A varja é a parte que nos cabe neste latifúndio
    Que foi um dia sesmaria da capitania dos Barões de Joanes
    Ruína dos Aruãs e tapera de aldeias doutras nações indígenas.

    Com o uso coletivo da terra madre tapuia
    E o reconhecimento dos mucambos
    Falta devolver a identidade marajoara perdida
    Religar a ancestralidade africana
    Resgatar a herança ibérica
    Incentivar a economia solidária a todo vapor
    Para isto nada melhor que recuperar já
    E federalizar o Museu do Marajó herança da avó
    Desta gente ribeirinha desde menina
    Amparar a academia do peixe frito
    Institucionalizar a universidade livre
    Tudo o mais no ano do Centenário de Dalcidio Jurandir.

    A gente sabe que a Governadora do Pará
    Tem compromisso firmado com a gente
    Que o Governo Federal não está mais ausente
    Mas porém o Palácio de vossa serventia
    Não é a Academia Brasileira pra saber tudinho
    Destes Brasis tão grandes e distantes
    Portanto não dá tempo ao pessoal de vos dizer
    Todos estes porquês
    Que fariam mais bonito o discurso de Vossa Excelência
    A toda ocasião que falar do extremo-Norte brasileiro
    Diante do mundão mandão.

    O senhor Presidente pense no Museu do Marajó
    Como se fosse o Louvre com açaí e tucupi
    Símbolo vivo que ele é no patrimônio invisível
    Da teimosia desta brava gente brasileira
    Nos campos de Cachoeira do rio Arari
    Que vem do tempo dos Nheengaíbas jamais vencidos
    Na guerra.

    Os marajoaras existimos ainda hoje por ajuda
    Do Padre Antônio Vieira outrora que não deixou
    O governo do Maranhão e Grão-Pará
    Dar a guerra de extinção e cativeiro às Ilhas
    Insubmissas então e apenasmente integradas pela paz
    Fato a completar 350 anos no ano que vem
    No Centenário do índio sutil Dalcídio Jurandir
    E Fórum Social Mundial em Belém.

    O senhor Presidente se lembre
    Os cabocos somos remanescentes de povos indígenas
    Vítimas do erro cartográfico de Cristóvão Colombo
    O qual querendo ir às Índias deu com a nau ao Novo Mundo
    Tivemos que esperar 500 anos pra despertar
    Do tal baque que a História deu:
    Aqui nas ilhas o Museu do Marajó é o canto do Gallo
    Que ajuda a acordar esta gente adormecida
    Mundiada pela cobra grande Boiúna
    Desde a primeira noite do mundo.

    A gente quer um Plano Mandela pra todo mundo
    Da periferia global que nem aquele
    Que reconstruiu a Europa da guerra mundial
    Tudo pra ficar igual entre o Norte e o Sul
    Sem mais apartação tão desmedida como ainda há.

    O Senhor Presidente sabe que a gente do fim do mundo
    Depois da enorme noite colonial vai chegar em 2030
    A qualquer coisa como 350 milhões de “indígenas”
    Da Terra toda.
    Recuperada a memória das Índias orientais e acidentais
    Lá estarão as novas gerações marajoaras!
    Quem tem medo dos novos índios do Brasil
    Descendentes de abril de 1500?
    Quando se sabe que o Povo Brasileiro é herdeiro
    Da terra dos Tapuias e do Pindorama…

    Se por acaso ninguém avisou a Vossa Excelência
    Ser a ilha do Marajó o maior patrimônio arqueológico
    Do Brasil a par de ser também patrimônio natural
    Da humanidade
    Ainda não reconhecido
    É preciso que a gente se levante e mande o recado
    Urgente.

     

    José Varella – Belém da Amazônia, 16/02/2008
    Museu do Marajó – www.museudomarajo.com.br