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    Comunicação

    Monangamba

    Naquela roça grande não tem chuva é o suor do meu rosto que rega as plantações; Naquela roça grande tem café maduro e aquele vermelho-cereja são gotas do meu sangue feitas seiva. O café vai ser torrado, pisado, torturado, vai ficar negro, negro da cor do contratado Negro da cor do contratado! Perguntem às aves […]

    POR: Redação

    2 min de leitura

    Naquela roça grande não tem chuva
    é o suor do meu rosto que rega as plantações;
    Naquela roça grande tem café maduro
    e aquele vermelho-cereja
    são gotas do meu sangue feitas seiva.
    O café vai ser torrado,
    pisado, torturado,
    vai ficar negro, negro da cor do contratado

    Negro da cor do contratado!

    Perguntem às aves que cantam,
    aos regatos de alegre serpentear
    e ao vento forte do sertão:

    Quem se levanta cedo? quem vai à tonga?
    Quem traz pela estrada longa
    a tipóia ou o cacho de dendém?
    Quem capina e em paga recebe desdém
    fuba podre, peixe podre,
    panos ruins, cinqüenta angolares
    “porrada se refilares”?

    Quem?

    Quem faz o milho crescer
    e os laranjais florescer
    – Quem?

    Quem dá dinheiro para o patrão comprar
    máquinas, carros, senhoras
    e cabeças de pretos para os motores?

    Quem faz o branco prosperar,
    ter barriga grande – ter dinheiro?
    – Quem?

    E as aves que cantam,
    os regatos de alegre serpentear
    e o vento forte do sertão
    responderão:

    – “Monangambééé…”

    Ah! Deixem-me ao menos subir às palmeiras
    Deixem-me beber marufo, marufo
    e esquecer diluído nas minhas bebedeiras

    – “Monangambééé…”

    Poesia Africana de Língua Portuguesa (Antologia)
    Maria Alexandre Dáskalos, Livia Apa, Arlindo Barbeitos
    Lacerda Editores – edição 2003