Após a sagrada hora da sesta
Festa da luz na baía às cinco e meia
Em ponto na praça do Relógio
Sob brisa macia o Solar da Beira desperta:
Tupã fez esta gente para dormir e sonhar…
Depois da chuva cair
Dá vontade de sair e ir a pé
Até algum lugar à beira do rio-mar
Espiar ao longe o pouso do sol
Porto do Sal reside não longe dali
Viagem secreta da imaginação
Por bares, lares e outros lugares
Oração brava da Terra sem males.

Quebrar caroço de tucumã na boca da noite
Mistérios do Astrocarium vulgare numa certa ilha
Filha da Cobragrande
Sons da primeira noite do mundo
Ócio abaixo do equinócio vem do fundo
Ultra aequinoxialem non peccavit
Açaí, canhapira e bolinhos de piracuí
Para todo mundo
Academia do peixe frito a cantar o sol poente
A Terra sem males a pouca distância da gente.

O vento traz aulas de história de encontro ao cais
A feira esconde pesos e medidas de fadigas antigas
Velas descansam com urubus no extinto Igarapé Piry
O velho Forte passa em revista armas e barões assinalados
Sinos da Cidade Velha rezam Aves-Marias
Turistas não longe daí degustam pato ao tucupi
Só o poeta voa com os últimos raios de sol
A ver El-Dorado trocar por ouro água do rio barrento
Nuvens de periquitos aos gritos sobre o verde
Grandes mangueiras sombrias são entradas e bandeiras
Terra sem males à vista.

Na verdade o procurado Araquiçaua tupinambá existe
Aqui agora neste lugar a hora mágica
Talvez amanhã o viajante audaz será capaz
De chegar às portas do paraíso ambicionado
Por hoje basta a preguiça e o sol a se deitar na rede
O astro do dia vai dormir na Terra sem males.

Não importa quantas terras prometidas e percorridas
Quanta gente caída sobre o duro chão desta demanda
Quantas guerras perdidas ou vencidas
A busca há de continuar até o infinito junto às estrelas
Agora o bom selvagem desperta e vê um pouco
No espírito do caboco comedor de peixe e pirão de açaí
O lugar misterioso onde o sol adormece:
País das amazonas
Portal da Terra sem males
Antevisto desde o Ver-o-Peso.

 

Belém do Pará, 07/04/2008