O desafio de compatibilizar o desenvolvimento com a preservação da natureza adquiriu relevância na pauta das nações. Os efeitos da ação destrutiva do capitalismo, entre eles o agravamento do efeito estufa responsável pelo aquecimento global, elevaram bem alto a bandeira ambiental.

De quem são as responsabilidades? Que medidas são necessárias para a reversão desses preocupantes prognósticos? Tudo isso motiva um intenso debate científico, ideológico e político.

De dedo em riste as potências capitalistas acusam os países em desenvolvimento de serem os responsáveis pela tragédia ambiental. Segundo os Estados Unidos da América e a União Européia, entre outros, os países da chamada periferia usam tecnologias ultrapassadas e poluidoras. Conforme disseminam tais potências, o aquecimento global como um problema de responsabilidade de toda a humanidade e as metas e tarefas necessárias para livrar a Terra de uma catástrofe seriam iguais para todos os povos.

E mais: declaram abertamente que os países em desenvolvimento são incapazes para empreender uma gestão responsável sobre os recursos naturais de seus territórios. Neste particular, o alvo das grandes potências é a Amazônia brasileira. Lideranças políticas e o arsenal midiático do imperialismo pregam abertamente uma “gestão internacional” para a região. “Essa parte do Brasil é importante demais para deixar aos brasileiros”, disse em editorial o jornal inglês The Independent.
Na verdade, o imperialismo ergue a bandeira ambiental com três objetivos: ocultar suas responsabilidades pelos danos contra a natureza; obstruir o desenvolvimento dos países em desenvolvimento; e se apossar de suas riquezas, como é o caso da Amazônia.

O aquecimento global não é responsabilidade de uma humanidade abstrata e a-histórica. As grandes potências chegaram a essa condição de países dominantes alavancadas por seus parques industriais alimentados por combustíveis fósseis. Há mais de dois séculos, desde a revolução industrial, lançam toneladas de gases poluentes no meio ambiente. Como o CO2, por exemplo, demora 150 anos para se dissipar na atmosfera, é fácil concluir que eles são os grandes responsáveis pelo efeito estufa.

Distintas são as responsabilidades dos países em desenvolvimento, pois estes tardiamente embarcaram na era industrial. Portanto, é um embuste falar em responsabilidades iguais no que se refere ao aquecimento global.

Essa concepção da lógica das responsabilidades históricas em relação ao aquecimento do planeta alicerçou a diplomacia brasileira em conjunto com dezenas de outros países em desenvolvimento a fazer valer nos fóruns internacionais – desde o Protocolo de Kyoto – o “princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas”. Em decorrência, pelos tratados, as grandes potências têm o dever de cumprir metas de redução da emissão dos gases responsáveis pelo efeito estufa; já os países em desenvolvimento devem também reduzir tais emissões, mas sem metas preestabelecidas.

A cobiça e o expansionismo do imperialismo sempre vieram acompanhados de teorias e idéias para legitimá-los. As grandes potências historicamente responsáveis pelo aquecimento global – que destruíram suas florestas, dizimaram as populações nativas de seus países – recorrem, na atualidade, ao discurso ambiental para acobertar sua investida contra os países em desenvolvimento, em especial contra o Brasil. Ataca-se o etanol brasileiro, questiona-se a soberania nacional sobre a Amazônia e, ainda, existem ameaças de que tais potências tentariam manipular a luta pelos direitos dos indígenas.

O governo brasileiro e as forças de esquerda e progressistas precisam reforçar o rechaço contra tal investida. O país tem autoridade para desqualificar o discurso hipócrita das potências que cresceram à custa de terríveis danos ambientais ao mundo.

Essa autoridade vem da decisão nacional de que o Brasil precisa se desenvolver para garantir uma vida digna ao seu povo. E este desenvolvimento será sustentável, articulando sempre crescimento econômico com preservação ambiental.

EDIÇÃO 96, JUN/JUL, 2008, PÁGINAS 3