É assim que leio uma carta
É assim que leio uma carta
fecho a porta do quarto e me asseguro
que está trancada
para que não me fuja
a excitação
aí me afasto da porta
para não ser surpreendida
se alguém bater
aí olho as paredes olho o chão apreensiva
com medo que sei lá
a alma de um rato
esteja à espreita
e devagar e com cuidado
eu abro a carta
E aí leio que sou
tudo no mundo
para alguém
nem queira saber
quem é
E fico suspirando pelo Céu
mas outro Céu não o Céu
que Deus dará
Emily Dickinson
Alguns poemas
Tradução de José Lira
Editora Iluminuras – edição 2006