Logo Grabois Logo Grabois

Leia a última edição Logo Grabois

Inscreva-se para receber nossa Newsletter

    Comunicação

    O duro cerne da beleza

    O mais esplêndido não é a beleza, por profunda que seja, mas a clássica tentativa de beleza, em meio o charco: a estrada interrompida, abandonada quando a nova ponte finalmente entrou em uso. Ali, de ambos os lados de uma entrada cuja tinta, crestada pelo sol, começa a descascar – dois vasos de gerânios. Pois […]

    POR: Redação

    2 min de leitura

    O mais esplêndido não é
    a beleza, por profunda que seja,
    mas a clássica tentativa
    de beleza,
    em meio o charco: a
    estrada interrompida, abandonada
    quando a nova ponte finalmente entrou em uso.
    Ali, de ambos os lados de uma entrada
    cuja tinta, crestada pelo sol,
    começa a descascar –
    dois vasos de gerânios.
    Pois entre: em uma das paredes,
    pintadas numa placa ornamental,
    romãs maduras.
    – e, ao sair, repare lá
    embaixo na estrada – numa unha,
    numa unha de polegar se poderia esboçá-lo –
    degraus de pedra subindo
    pela fachada toda até, no
    primeiro andar, um
    minúsculo
    pórtico
    em bico como o palato
    de uma criança! Deus nos dê de novo
    igual intrepidez.
    Há tufos
    de roseiras dos dois lados
    dessa entrada e ameixeiras
    (uma seca) circundadas
    na base por carcaças
    de pneus velhos! sem outro propósito
    senão a glória da Divindade
    a qual fez aparecerem
    ambos os seus ombros, sustentando
    o enlameado lourejar
    de suas tranças, acima
    das ondas pacientes.
    E nós? o vasto mundo inteiro abandonado
    sem nenhuma razão, intacto,
    o mundo perdido da simetria
    e da graça: sacos de carvão
    jeitosamente empilhados sob
    o telheiro dos fundos, o
    fosso bem atrás um passadiço
    por entre a lama,
    triunfante! ao prazer,
    prazer; prazer de barco,
    retirada vereda de um domingo
    até o livre rio.

    William Carlos Williams
    Poemas
    Seleção, tradução e estudo crítico: José Paulo Paes
    Editora Companhia das Letras – edição 1987

     

    Notícias Relacionadas