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    Comunicação

    Paterson do Livro I

    Prefácio “O rigor da beleza é o alvo da busca. Mas como se poderá encontrar a beleza se ela está encerrada na mente, para além de toda admoestação?” Compor um começo com particularidades e torná-las gerais, arrolando a soma, por meios imperfeitos – Farejando as árvores, um cão qualquer num bando de cães. O que […]

    POR: William Carlos Williams

    3 min de leitura

    Prefácio

    “O rigor da beleza é o alvo da busca. Mas como se poderá encontrar a beleza se ela está encerrada na mente, para além de toda admoestação?”

    Compor um começo
    com particularidades
    e torná-las gerais, arrolando
    a soma, por meios imperfeitos –
    Farejando as árvores,
    um cão qualquer
    num bando de cães. O que
    mais ali? E que fazer?
    Os outros debandaram –
    atrás de coelhos.
    Só o estropiado permanece – sobre
    três pernas. Coça-te adiante e atrás.
    Engana e come. Desenterra
    um osso embolorado

    Pois o princípio indubitavelmente é
    o fim – já que de nada sabemos, puro
    e simples, para além
    de nossas próprias complexidades.

    E no entanto
    não há nenhum retorno: rolando para fora do caos,
    prodígio de nove meses, a cidade
    o homem, uma identidade – e nunca poderia
    ser de outra maneira – uma
    interpenetração, em ambos os sentidos. Rolando
    para fora! obverso, reverso;
    o bêbado o sóbrio; o renomado
    o grosseiro; um só. Na ignorância
    um certo saber, saber
    não-disperso, seu próprio desbarato.

    (A múltipla semente,
    apinhada de detalhes, azedada,
    fica perdida no fluxo e a mente,
    distraída, vai-se flutuando com a mesma
    escuma)

    A rolar, a rolar prenhe de
    números.

    É o sol ignorante
    erguendo-se no rastro de
    erguidos sóis vazios, pelo que neste mundo
    jamais um homem poderá viver a gosto no seu corpo
    a não ser morrendo – e sem saber-se
    morrendo; este no entanto é o
    desígnio. Renova-se a si mesmo
    de tal modo, em soma e subtração,
    andando para cima e para baixo.

    e o ofício,
    subvertido pelo pensamento, a rolar para fora, cuide-se
    ele de não se voltar tão-só para a
    escrita de poemas estagnados…
    Mentes como camas sempre feitas,
    (mais pedregosas que uma praia)
    relutantes ou incompetentes.

    A rolar, o topo para cima,
    sob, empuxo e retrocesso, um grande estardalhaço:
    alçado feito ar, transportado, multicolorido, um
    detrito dos mares –
    da matemática a particularidades –
    dividido como as orvalhadas
    neblinas flutuantes, que as chuvas vão lavar e
    recongregar num rio,um rio que corre
    e que dá voltas:
    conchas e animálculos
    geralmente, e assim até ao homem,

    até Paterson.

    William Carlos Williams
    Poemas
    Seleção, tradução e estudo crítico: José Paulo Paes
    Editora Companhia das Letras – edição 1987