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    Comunicação

    Aos poetas clássicos

    Poetas niversitário, Poetas de Cademia, De rico vocabularo Cheio de mitologia Se a gente canta o que pensa, Eu quero pedir licença, Pois mesmo sem português Neste livrinho apresento O prazê e o sofrimento De um poeta camponês. Eu nasci aqui no mato, Vivi sempre a trabaiá, Neste meu pobre recato, Eu não pude estudá […]

    POR: Redação

    4 min de leitura

    Poetas niversitário,
    Poetas de Cademia,
    De rico vocabularo
    Cheio de mitologia
    Se a gente canta o que pensa,
    Eu quero pedir licença,
    Pois mesmo sem português
    Neste livrinho apresento
    O prazê e o sofrimento
    De um poeta camponês.
    Eu nasci aqui no mato,
    Vivi sempre a trabaiá,
    Neste meu pobre recato,
    Eu não pude estudá
    No verdô de minha idade,
    Só tive a felicidad
    De dá um pequeno insaio
    In dois livro do iscritô,
    O famoso professô
    Filisberto de Carvaio.
    No premêro livro havia
    Belas figuras na capa,
    E no começo se lia:
    A pá – O dedo do Papa,
    Papa, pia, dedo, dado,
    Pua, o pote de melado,
    Dá-me o dado, a fera é má
    E tantas coisa bonita,
    Qui o meu coração parpita
    Quando eu pego a rescordá.
    Foi os livro de valô
    Mais maió que vi no mundo,
    Apenas daquele autô
    Li o premêro e o segundo
    Mas, porém, esta leitura,
    Me tirô da treva escura,
    Mostrando o caminho certo,
    Bastante me protegeu
    Eu juro que Jesus deu
    Sarvação a Filisberto.
    Depois que os dois livro eu li,
    Fiquei me sintindo bem,
    E ôtras coisinha aprendi
    Sem tê lição de ninguém.
    Na minha pobre linguage,
    A minha lira servage
    Canto o que minha arma sente
    E o meu coração incerra,
    As coisa de minha terra
    E a vida de minha gente.
    Poeta niversitaro,
    Poeta de cademia,
    De rico vocabularo
    Cheio de mitologia,
    Tarvez este meu livrinho
    Não vá recebê carinho,
    Nem lugio e nem istima,
    Mas garanto sê fié
    E não istruí papé
    Com poesia sem rima.
    Cheio de rima e sintindo
    Quero iscrevê meu volume,
    Pra não ficá parecido
    Com a fulô sem perfume
    A poesia sem rima,
    Bastante me disanima
    E alegria não me dá
    Não tem sabô a leitura,
    Parece uma noite iscura
    Sem istrela e sem luá.
    Se um dotô me perguntá
    Se o verso sem rima presta,
    Calado eu não vou ficá,
    A minha resposta é esta:
    – Sem a rima, a poesia
    Perde arguma simpatia
    E uma parte do primô
    Não merece munta parma,
    É como o corpo sem arma
    E o coração sem amô.
    Meu caro amigo poeta,
    Qui faz poesia branca,
    Não me chame de pateta
    Por esta opinião franca.
    Nasci entre a natureza,
    Sempre adorando as beleza
    Das obra do Criadô,
    Uvindo o vento na serva
    E vendo no campo a reva
    Pintadinha de fulô.
    Sou um caboco rocêro,
    Sem letra e sem istrução
    O meu verso tem o chêro
    Da poêra do sertão
    Vivo nesta solidade
    Bem destante da cidade
    Onde a ciença guverna.
    Tudo meu é naturá,
    Não sou capaz de gostá
    Da poesia moderna.
    Deste jeito Deus me quis
    E assim eu me sinto bem
    Me considero feliz
    Sem nunca invejá quem tem
    Profundo conhecimento.
    Ou ligêro como o vento
    Ou divagá como a lesma,
    Tudo sofre a mesma prova,
    Vai batê na fria cova
    Esta vida é sempre a mesma.

     

    Cante Lá que eu Canto Cá
    Editora Vozes – Rio de Janeiro, 1984
    Jornal da Besta Fubana
    Fonte:
    www.interpoetica.com
     

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