a solidão e a solidão do desamor assassino
Em Portugal, como na eterna
Pátria Brazilis, mulheres que se dignam
a só amar a quem amam
são almas marcadas para morrer.
Ao descobrir, ou supor
que sua mulher não é casta,
o “cabra macho” a mata
– macheza tamanha
que ao troglodita
de Neanderthal espanta
Estupidez intrépida e covarde
de quem se faz assassino
em nome do des/amor que sente
a quem o rejeita
Tratando a mulher
como propriedade sua,
o coronel a quer para si
para um pecado frio
que não é suado, rasgado, a todo vapor
como poderia ser, se não fizesse a mulher
de múmia mantida
– a maquiagem pesada
a moldar a máscara
da infelicidade explícita
em que se acha a vítima
– tão oprimida
pelo poder da verba regrada
que mesmo na cama
entregue à extinta volúpia de seu dono,
não pode sequer respirar
Gozar é insulto,
só o fazendo as putas
e a sua é para ser
a segunda esposa
– a esposa pública,
em que espoja
despojos do poder maléfico
(o de ser coronel
de uma propriedade humana
que ele pensa que ama)
Assim, fazendo as tripas coração,
vai o mantenedor destituído
de dignidade e pureza,
como sucede a toda criatura possuída
pela doença do controle
e a solidão do falso poder
Brasigóis Felício, é goiano, nasceu em 1950. Poeta, contista, romancista, crítico literário e crítico de arte. Tem 36 livros publicados entre obras de poesia, contos, romances, crônicas e críticas literárias.