Vejo-os na feira e são muitos.
Cada qual a vender o seu pescado.

Atrás do balcão,
Lá estão, desajeitados.
Para viver são obrigados ao que mais odeiam
E menos sabem.

O ofício é mais avaro.
Os trabalhadores do mar
Ao menos de seu trabalho vivem.
Já os poetas sequer a arte os alimenta.
É preciso mil outros dons
E uma centena de outros ofícios.

Mas perseverantes, lá estão eles.
Cada qual com seu pescado
E uma pequena legião de admiradores,
O seu reinado.

Não buscam dinheiro, não buscam a fama,
Tampouco a glória.
Glorioso é o próprio ofício:
São os construtores da alma.

Sabem que a tarefa de humanizar o homem,
Não está completa.
Sabem que é necessário tornar
Novamente cristalina a água.
Sabem que cada poema é um grama do sal
De que necessita o oceano.

 

As delícias do amargo & uma homenagem: poemas
Adalberto Monteiro
Editora Anita Garibaldi – edição 2005

Adalberto Monteiro, Jornalista e poeta. É da direção nacional do PCdoB. Presidente da Fundação Maurício Grabois. Editor da Revista Princípios. Publicou três livros de poemas: Os Sonhos e os Séculos(1991); Os Verbos do Amor &outros versos(1997) e As delícias do amargo & uma homenagem(2007).