Tendo como epicentro os Estados Unidos da América (EUA) – principal potência capitalista do mundo –, um terremoto financeiro e econômico, neste ano 8 do Século XXI, atinge o conjunto dos países.
Este sismo de magnitude comparado à depressão de 1929 teve seus primeiros “tremores” em agosto do ano passado quando estourou a gigantesca bolha imobiliária estadunidense. De lá para cá a crise, cujo fim e alcance estão longe de se revelarem, já se propagou com violência para as demais praças capitalistas, notadamente Europa e Japão.

Mais de três trilhões e meio de dólares já foram aplicados pelos Bancos Centrais e outras instituições das grandes potências para socorrer bancos, seguradoras e outras instituições financeiras. As Bolsas cravam a seta para baixo e oscilam erraticamente. A cotação dos valores das empresas despenca.
A grande mídia e os ideólogos do sistema reinante alardeiam cifras astronômicas dos “prejuízos” das instituições financeiras e ocultam questões fundamentais referentes aos impactos desta nova crise sistêmica do capitalismo.

Primeiro. A crise do capitalismo revela o quão ele é nocivo à humanidade e desmascara os dogmas neoliberais. A banca está nua com suas fraudes, com seus derivativos voláteis e executivos corruptos.
Segundo. Quem pagará a conta desta crise? Como sempre ocorreu ao longo do capitalismo, os governos dos EUA e de outras potências buscam jogar os prejuízos sobre os povos e os trabalhadores. Recessão, desemprego, aumento da pobreza, corte de linhas de crédito são parte dessas consequências danosas. No concreto, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) calcula 20 milhões de novos desempregados até 2009, o que dará uma soma de 210 milhões. Nos EUA e em outros países inúmeros trabalhadores terão sua aposentadoria prejudicada, pois os fundos de pensão tiveram grandes perdas decorrentes da compra de ações podres.

Terceiro. Que mundo resultará desta crise? A resposta demandará alguns anos e resultará de grandes lutas políticas, sociais e ideológicas. Mesmo em declínio, os EUA não abdicarão pacificamente de suas ambições e posições. A crise incide sobre uma transição mundial da qual uma das tendências é a construção de uma ordem multipolar, distinta da atual, marcada pela regência imperial dos Estados Unidos da América.

O pólo que rivaliza com o centro capitalista que irradia recessão, instabilidade e ameaças bélicas é, exatamente, o bloco dos países em desenvolvimento do qual fazem parte Brasil, Índia, China, Vietnã, África do Sul, Rússia, entre outros. Apesar das distinções, muitos deles romperam com a lógica neoliberal e levantaram a bandeira da democracia, da soberania, da justiça social e da paz.
Serão de grande valor, nesta quadra em que se acirrarão as contradições entre os campos da democracia e do conservadorismo, as articulações construídas pela luta social, política e pela diplomacia dos países em desenvolvimento. Na América Latina, a União de Nações Sul-Americanas (Unasul), Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba); o G-20, articulação em defesa dos países em desenvolvimento, no âmbito da Organização Mundial do Comércio; Índia, Brasil e África do Sul, (IBAS); a Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), entre outros. De igual modo, jogará papel especial a luta dos trabalhadores e dos movimentos sociais, bem como o Fórum Mundial.

A China e o Vietnã, que neste ano completam 30 e 20 anos, respectivamente, da adoção de caminhos novos à construção do socialismo, se constituem em contrapontos positivos à realidade de crise do mundo capitalista. Ambos mantém elevados índices de crescimento econômico combinados com a melhoria da qualidade de suas populações. Certamente, também, não estão imunes aos efeitos da crise, mas têm margem de resistência e manobra.

No momento em que os povos buscam saídas progressistas para a humanidade, as pátrias socialistas em aliança com o conjunto de países regidos por governos democráticos e patrióticos formam o campo no qual se depositam as melhores esperanças para as lutas duras que acompanham as grandes crises. A China socialista – pelo seu peso na economia global e o sentido progressista de sua política – neste contexto de incertezas chama a atenção em especial.

EDIÇÃO 98, OUT/NOV, 2008, PÁGINAS 3