E como chovia torrencialmente muitas pessoas quase morreram afogadas pelas palavras que transbordavam pelos bueiros da quebrada. Eram tantas as palavras que despencavam da nuvem no bar do Zé batidão, que muita gente, quase que se afogava nas próprias lágrimas, de tanta emoção.

      A Cooperifa fez chover mais de quinhentos livros (poesia, prosa, romance, conto) (2) para as mais de quinhentas pessoas que apareceram como um raio, de todos os lugares, para tomar um banho de literatura, que sem roupa, escorria asfalto abaixo pelos becos e vielas, molhando sem frescura, um povo desprovido de guarda-chuva.

      E como o trovão era muito forte, todo povo do entorno desligou a tv e correu para o sarau, com medo do relâmpago que tem raiva de novela.

      Choveu livro, mas a enchente, desculpe o molhado trocadilho, foi mesmo é de pessoas, que vinha das casas, da escola, da faculdade, da fábrica, do escritório, do céu, do inferno, era tudo quanto é tipo de gente, à procura de abrigo, ou fugindo de algum purgatório.

      Dizem que as palavras não salvam, mas machucam, por isso no sarau o silêncio é uma prece, não tem falatório.

      Para quem chove a arrogância das letras no asfalto vazio, eu explico: ''a gente é simples, mas não é simplório.''

      Quando a gente diz que ''nóis vai'', é porque nós vamos mesmo.

      E se a ''oreia tá seca doutor, garoa no ódio não, limpa o zóio, que passa.''

Notas

(1)  se me contassem eu também não acreditaria, por isso veja todas as fotos no blog: www.colecionadordepedras.blogspot.com

(2) 545 livros distribuídos gratuitamente para as pessoas da comunidade em São Paulo.

Agradecimentos especiais: Cooperifa, Organização Poiésis, Edições Toró e Global Editora