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    Comunicação

    A minha Salvador

    Quando cheguei em Salvador, achei a cidade bonita Mas era uma cidade comum Com capoeira, balangandãs e orixás… mas ainda apenas uma cidade Quente, cheia de pontos turísticos mas uma cidade apenas. Ocorre que a percepção de um lugar é também a percepção de um momento Tempo e espaço são uma coisa só (cientistas com […]

    POR: Luana Bonone

    3 min de leitura

    Quando cheguei em Salvador, achei a cidade bonita
    Mas era uma cidade comum
    Com capoeira, balangandãs e orixás…
    mas ainda apenas uma cidade
    Quente, cheia de pontos turísticos
    mas uma cidade apenas.

    Ocorre que a percepção de um lugar é também a percepção de um momento
    Tempo e espaço são uma coisa só
    (cientistas com poderosa capacidade de abstração já explicaram isso)

    A vida me apresentou então uma Salvador lindíssima
    Embora com todos os elementos conhecidos pelos milhares e milhões de turistas
    que já tiveram a oportunidade de conhecer seu carnaval, seus santos e seu acarajé
    Embora com as mesmas cores e formas que todos os gringos do mundo (e do Brasil) enxergam no Pelourinho

    Uma Salvador completamente diferente… uma Salvador só minha!
    Então meus sentidos, já esvoaçantes, completamente livres, de repente paralisaram
    Como estivessem presos n'algum tipo de gaiola, ficaram imóveis
    Ainda não sei de atônitos diante da beleza da vida, da cidade
    Ou mesmo receosos de estragarem tão raro momento com algum movimento mais brusco ou algum som demasiadamente humano

    Diz-me que não é pecado ser tão feliz!
    Mas se disseres que é, confesso minha condição de contraventora das leis divinas
    Entretanto, faço-o convicta da minha opção de valorizar a felicidade humana, que julgo mais pagã que profana
    Pois o prazer de um momento feliz ignora a existência de Deus… ignora a existência do próprio mundo
    Conhece apenas a experiência do gozo e não possui preocupações divinas… e nem mundanas

    É que a felicidade é tão plena quanto pontual
    Um momento de felicidade é como um recém nascido:
    ignora completamente o mundo, embora todo o mundo pareça estar completamente concentrado apenas na sua existência

    Talvez por isso nosso imaginário aproxime a loucura da felicidade
    (A felicidade e a loucura carregam o mesmo grau de pureza e ingenuidade)
    pois ambos desconhecem ou simplesmente desconsideram o mundo e toda a sua decadência
    Claro, falo dos loucos romantizados pela nossa vontade de vislumbrar uma saída,
    uma válvula de escape à loucura social (real e decadente) em que vivemos

    E mesmo que por sentimento nobre ou altruísta eu quisesse dividir esta minha Salvador com o mundo,
    não seria possível
    Pois a dimensão da percepção de um momento-espaço é completamente individual
    Intransferível

    Fui feliz em Salvador
    É uma pena saber que nunca mais conseguirei voltar lá
    (àquela cidade presa no momento que não consigo descrever)
    Mas a lembrança viva daquela Salvador certamente será trilha para a descoberta de novas capitais dentro
    de mim…!

     Luana Bonone, jornalista e estudante de administração. Diretora de Comunicação da ANPG. É da direção nacional da União da Juventude Socialista – UJS. Publicou ''Garazilda e a Santa Voz'' (1993).