Se você sobreviveu até aqui não deve se aventurar no próximo ano de mãos vazias. Deve conduzir, mesmo que informalmente, algum roteiro, mapa ou atalho. As armadilhas, cascas de bananas e balas perdidas continuarão se espalhando pelos caminhos. Não se vê no horizonte do ano novo passagens claras. Há algumas frestas que precisam ser aproveitadas se o vivente quiser continuar se movendo em algum projeto ou mesmo um sonho, por mais simples que seja. Devo alertar para alguns perigos que apesar de conhecidos, continuam se fazendo de camaleões para confundir o caminhante. Assim, é bom tomar alguns cuidados ou atalhos. Embora não haja garantia de passagem feliz. Mas o povo tem lá sua sabedoria e ensina: – Conselho e caldo de galinha não fazem mal a ninguém. Aí vão algumas advertências:

1- Evite morar em encostas de morros, barrancos de córregos ou rios. É que essas regiões já não oferecem segurança. As águas estão podres, os barrancos esboroando, os morros desmoronam, procurando refúgio nos baixios, pois arrancaram os suportes das árvores, erodiram as encostas e, quando vem algum desmazelo de chuva, vai tudo a baixo, levando casas, bichos e gente. É uma hecatombe geral. Não precisa por esperança no socorro. Até que o coração da gente é mole. Dá o que tem. Mas é concreto o risco de saques, assaltos e espoliação pelos próprios companheiros de naufrágio e até pelas equipes de socorro.

2- Proteja os olhos e ouvidos das espetaculosas previsões dos governos. A crise que vem aí é verdadeira. Os donos do mundo, empanturrados de petróleo, euros e dólares continuaram sugando o sangue da ralé. Continuarão matando civis no Iraque, no Afeganistão, na Índia, em Dafur, e não estamos salvos de ataques terroristas. Os radicalismos seguirão dando as cartas e os corretores dos serviços de Deus continuarão vendendo paraísos em troca homens bombas, dízimos, ofertas e outras ganâncias.

3- Em Pecusburgo continuará o império das patas, patadas a torto e a direito. O grande truão continuará babando sobre as conveniências dos ricos e a miséria dos pobres. O futuro é de muito dinheiro para os bancos e as montadoras e cestas básicas para que o populacho não deixe de ser o que é. Rebanho comendo no cocho e sendo tangido para os currais.

4 – Se quiser alimentar alguma esperança siga os meios de comunicação que se alegram com o gordo hilário do pólo norte e invadem sua casa com quinquilharias eletrônicas, planos de viagem, corpos lipoaspirados, siliconados e botoxizados, ofertas de Xangrilás, para tudo ser pago em duas ou três existências.

5- Não pense que melhorará a situação ambiental. Você pode plantar sua arvorezinha. Mas não acredite naquele dito manjado. Não se meta a escrever livro, nem fazer filho. Livro continua sendo matéria absolutamente dispensável; filho, se não achar mãe disponível vai ter que plantá-lo debaixo da costela de alguma coisa revertida. E árvore a prefeitura arranca, mesmo sendo grande e florida, se for passar um viaduto ou espetar um espinho metálico na pele da cidade.  (Continuo na próxima semana).