Os roteiros preferidos são Nova Iorque, Buenos Aires, Paris, Londres e, mais rotineiramente, o litoral. Ser interior, tem sede de mar, nem que seja para molhar a mão, levar à boca, conferir que o riozão é salgado. Vale também refestelar numa praia, bem nutrido de barriga e carteira, ir se enchendo de delícias marinhas. Não frutos, que frutos são apenas os do cerrado: mangaba, piqui, articum, caju cagaita, por exemplo. São camarões, lagostas, peixes, naufragados em torrentes de cerveja. O goiano é bom pagador. Viaja sempre municiado de grana. Principalmente no Nordeste, é acolhido, com direito a pendurar conta e a pagar com cheque, com a certeza de que não é gente de dar calote em ninguém.

      Neste fim de ano chuvoso, o povo aqui de casa, Tânia e os meninos resolveram fazer uso dos dias de descanso que temos e escolheram uma praia de São Paulo, pertinho de Bertioga. É o que se pode chamar praia de paulista. Praia de primeiro mundo. Todo conforto, bela paisagem, um mar de águas tépidas. Foram dez dias de refrigério, para poder continuar agüentando a mesquinharia política de Goiás, os lançamentos de livros e os gritos das seitas histéricas que invadem o rádio e a televisão. Também a violência de todos os dias. Haja praia, paciência e sonho. Eu disse refrigério, caro leitor, porque entre as belezas da serra, do mar e das praias, cuja toponímia lembra índios mortos, há belas estradas serranas e costeiras, propícias ao gozo maior da paulistada – o engarrafamento. Na chegada, três horas de congestionamento para descer a serra. Depois, numa jornada curiosa a Maresias, a uma distância de 70 quilômetros, foram duas horas para ir e outras cinco para voltar. Ainda bem que chegamos ao lugar de hospedagem, de onde nunca deveríamos ter saído. É assim mesmo: o paulista começa a descer a serra na sexta-feira depois do expediente, chega sábado à praia e volta no domingo. São dois dias dentro do automóvel e um na praia. Tudo incluído no lazer e descanso. Sem estresse. A fila de consumo de petróleo e álcool segue poluindo e assinalando o futuro triste da humanidade: trabalhar para enriquecer as montadoras e os magnatas dos combustíveis no egoísmo do transporte individual.

      Bem, minha família, a do Cleide Ramos e a do Roberto, tiveram um belo descanso. Um pouquinho de mar, um nada de sol e muita chuva. Desfrutamos um fim de ano bem goiano. Churrascamos, fizemos peixada, alguma cervejinha e umas modas caipiras. Mas para o goiano não importa chegar, o que interessa mesmo é viajar. Como novos bandeirantes, Macunaímas, ao contrário. O sertão invadindo o mar.