Por Jimmy Carter, no Washington Post

Eu sei por envolvimento pessoal que a devastadora invasão de Gaza por Israel poderia facilmente ter sido evitada. Depois de visitar Sderot [cidade israelense] em abril último e de ver o sério dano psicológico causado pelos foguetes que haviam caído na área, minha mulher Rosalyn e eu dissemos que o lançamento de foguetes de Gaza era indesculpável e um ato de terrorismo. Embora as mortes fossem raras (três mortes em sete anos), a cidade estava traumatizada pelas explosões imprevisíveis. Cerca de 3 mil residentes tinham se mudado para outras comunidades, as ruas e parques e shopping centers estavam quase vazios.

Por Jimmy Carter, no Washington Post

Eu sei por envolvimento pessoal que a devastadora invasão de Gaza por Israel poderia facilmente ter sido evitada. Depois de visitar Sderot [cidade israelense] em abril último e de ver o sério dano psicológico causado pelos foguetes que haviam caído na área, minha mulher Rosalyn e eu dissemos que o lançamento de foguetes de Gaza era indesculpável e um ato de terrorismo. Embora as mortes fossem raras (três mortes em sete anos), a cidade estava traumatizada pelas explosões imprevisíveis. Cerca de 3 mil residentes tinham se mudado para outras comunidades, as ruas e parques e shopping centers estavam quase vazios. O prefeito Eli Moyal juntou um grupo de cidadãos em seu escritório para nos encontrar e reclamou que o governo de Israel não parava o lançamento de foguetes, através de diplomacia ou de ação militar.

Sabendo que em breve eu veria os líderes do Hamas em Gaza e também em Damasco, prometemos avaliar as perspectivas de um cessar-fogo. Do chefe de inteligência do Egito, Omar Suleiman, que estava negociando entre Israel e o Hamas, soubemos que havia diferenças fundamentais entre os dois lados. O Hamas queria um cessar-fogo que compreendesse tanto a Cisjordânia quanto Gaza, mas Israel se negava a discutir qualquer coisa que não fosse Gaza.

Sabíamos que 1,5 milhão de habitantes de Gaza estavam esfomeados, já que o rapporteur da ONU em "direito à comida" tinha encontrado grave desnutrição em Gaza, na mesma escala das nações mais pobres do sul do Saara, com mais de metade das famílias da Palestina comendo apenas uma refeição por dia.

Os líderes da Palestina em Gaza não assumiam compromisso em todas as questões, alegando que os foguetes eram a única forma de responder ao aprisionamento e de dramatizar o aspecto humanitário. O escalão superior do Hamas em Damasco, no entanto, concordou em considerar um cessar-fogo em Gaza desde que Israel prometesse não atacar e permitisse a entrega de ajuda humanitária aos cidadãos palestinos.

Depois de extensas discussões, os líderes do Hamas também aceitaram qualquer acordo de paz que pudesse ser negociado entre os israelenses e o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, que também lidera a OLP, desde que fosse aprovado pela maioria dos palestinos em um referendo ou por governo de unidade eleito.
[Nota do site: o Hamas governa Gaza; a OLP governa a Cisjordânia]

Uma vez que éramos apenas observadores, não negociadores, passamos a informação aos egípcios e eles buscaram uma proposta de cessar-fogo. Depois de cerca de um mês, os egípcios e o Hamas nos informaram que a ação militar dos dois lados e os foguetes iam parar em 19 de junho, por um período de seis meses, e que a ajuda humanitária seria restaurada ao nível normal que existia antes da retirada de Israel em 2005 (cerca de 700 caminhões por dia).

Fomos incapazes de confirmar isso em Jerusalem por causa da decisão de Israel de não admitir qualquer negociação com o Hamas, mas os lançamentos de foguetes logo pararam e houve aumento na entrega de comida, água, remédios e combustível. Ainda assim o aumento foi para cerca de 20% do nível original [de 700 caminhões]. E esse cessar-fogo frágil foi parcialmente rompido em 4 de novembro, quando Israel lançou um ataque em Gaza para destruir um túnel defensivo que estava sendo cavado pelo Hamas dentro do muro que cerca Gaza.

Em outra visita à Síria na metade de dezembro, tomei a iniciativa de tentar que o cessar-fogo fosse estendido. Estava claro que a principal questão era a reabertura das entradas de Gaza. Representantes do Centro Carter visitaram Jerusalem, se encontraram com autoridades de Israel e perguntaram se isso seria possível em troca da cessação dos foguetes. O governo de Israel propôs que seria possível entregar 15% dos suprimentos se o Hamas parasse os foguetes por 48 horas. Isso foi inaceitável para o Hamas e as hostilidades recomeçaram.

Depois de 12 dias de "combate", as forças de defesa de Israel informaram que mais de mil alvos tinham sido bombardeados. Durante esse período, Israel rejeitou as tentativas internacionais de obter um cessar-fogo, com apoio completo de Washington. Dezessete mesquitas, a escola americana internacional, várias casas e muito da infraestrutura de uma região pequena e densamente povoada foram destruídos. Isso inclui os sistemas de água, esgoto e eletricidade. Baixas civis pesadas são informadas pelos corajosos voluntários de muitos paises, enquanto os bem afortunados operam feridos à luz de geradores movidos a diesel.

A esperança é de que quando as novas hostilidades não forem mais produtivas, Israel, o Hamas e os Estados Unidos aceitem outro cessar-fogo, depois do qual os foguetes deixem de ser lançados e o nível normal de ajuda humanitária será permitido aos palestinos sobreviventes, com um acordo monitorado pela comunidade internacional. O próximo passo possível: uma paz ampla e permanente.

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*Ex-presidente dos Estados Unidos de 1977 a 1981.

Fonte: blog Viomundo.