Corre sangue no rio Jordão
E os sacrificados não são ovelhas,
Mas meninos e meninas
Que agora nos tanques
Já não poderão atirar pedras…

Já não há gaze para tantos
Feridos em Gaza.
Atacada por mar, ar e terra,
Gaza sangra, Gaza geme,
Cercada, mutilada, Gaza freme.
Gaza não é monte de argamassa,
Gaza é gente…

Mas, Gaza respira,
Gaza ama e resiste,
E lutará,
Até a última oliveira,
Até a última tamareira,
Até o último menino…

Ó povo judeu,
Que terrível crime comete
Vosso Estado!
A que estado caíste!
Vós, vítima dos guetos,
Vós, vítima do holocausto,
Vossos líderes
Tornaram-se de Hitler
Aprendizes.
Alguns já causam inveja ao mestre.

Ó povo judeu,
Liberta-te, pela memória
Dos teus,
Da vergonha de tua estrela
Adquirir a aparência
E a essência da suástica!

Como querer de um povo condenado ao gueto,
De um povo pelo inimigo dividido,
Reagir com a polidez dos diplomatas?
Ah!, amado povo palestino,
Por Arafat, por teus mártires,
Reconstrói tua unidade!

Que a bravura de Gaza,
Não nos acomode à poltrona,
Que a carnificina que a TV não mostra
Não seja apenas um filme que nos arranca lágrimas…
Olha para ti!
Acaso não és um romano
Sentando na torpe arquibancada
Vendo na arena
Os cristãos lutando contra os leões?

Faça alguma coisa por Gaza,
Mande uma carta ao teu político,
Meta a mão no bolso,
Sacuda os ombros de teu amigo,
Vá à tua janela e dê um grito,
Vá ao templo, corra à praça,
Mande um imeio, ou use outro meio,
Só não vale cruzar os braços
Ante essa matança, essa desgraça…

 
*A charge, assinada por Enio Lins, foi publicada originalmente no jornal Tribuna Operária número 73, de junho 1982, quando crianças, no caso as do Líbano, já eram vítimas das atrocidades de Israel.