Chora, Palestina! Sangra, Palestina!
Não se consultou se no sítio demarcado para a nova nação, havia outros povos. As forças chegantes, com apoio internacional, expulsaram essa gente de seus lares, convertendo antigos moradores em refugiados em sua própria terra. O mundo conhece a sucessão das lutas dos israelenses para viabilizar seu estado, o sonho do Grande Israel, encravado em território habitado pelos árabes. Esqueceram, entretanto, de garantir aos posseiros milenares, também seu território, sua dignidade de povo, com direito também de desfrutar dos atributos humanos da honra, da liberdade e da vida.
Assim, o mundo tem assistido em silêncio e apatia as ações militares de Israel: invasões e segregações de seus vizinhos árabes. Aos palestinos restou a logística do desespero, os movimentos de libertação que desaguaram nos homens bombas e nas jornadas suicidas. O jogo entre palestinos e judeus é uma peleja de gato e rato. Não tem surpresa.
Como enclave ocidental no oriente médio, Israel recebeu a bomba atômica para se defender e para eliminar qualquer ilusão de convergência dos países árabes (Iran, Iraque, Síria, Egito, Líbano) que possa por em risco os projetos das potências euro-americanas na região de oceanos subterrâneos de petróleo. Há vinte dias Israel tem despejado seu arsenal de tecnologia mortífera sobre a faixa de Gaza. O argumento é de destruir os terroristas do Hamas. Nada de errado. Ninguém apóia terrorismo. Pior ainda o de estado.
A imprensa internacional e seus ecos nacionais apenas contam o número de vítimas. Já beiram a mil, segundo essas contas. Na maioria crianças e adolescentes. Israel embora alegue estar se defendendo dos ataques do Hamas, deixa claro que pretende aniquilar os palestinos. A desproporcionalidade da resposta israelense caminha para o genocídio. Sua máquina de guerra pode alcançar alguns combatentes do Hamas, mas é inexoravelmente certeira ao mirar as escolas, hospitais e a população civil.
Só é compreensível o silêncio das nações diante do massacre da população civil palestina pela adoção de uma ética cruel e desumana. As bombas israelenses podem conseguir rápidas vitórias sobre uma população quase indefesa aos olhos de um mundo insensível, mas estarão cavando mais fossas de ódio, mais rios de sangue. Inegável é o direito dos povos existirem. Imperativo, porém, é coexistir. Ao abandonar as soluções políticas que contemplem os estados judaico e palestino, opta-se pela barbárie. O povo que já padeceu martírios torna-se algoz e carniceiro de seus vizinhos. Enquanto troar a voz das armas, estarão caladas a razão, a tolerância e a piedade. Enquanto nos gabinetes tentam convencer os israelitas ao cessar fogo, entre bombas e horror choram as crianças, choram as mães, chora a ferida aberta em Gaza. Chora a paz. E como parte da humanidade ferida, sangra a Palestina. Sangra aos olhos do mundo, Palestina!