Diálogos sobre a guerra no tempo
Por Sérgio Barroso*
Por Sérgio Barroso*
1. Mande o seu exército entrar em território inimigo e fazer milhares de fogueiras indicando acampamentos; no dia seguinte, mande que façam metade daquele número de fogueiras, e no dia seguinte a ele, mande que façam de novo metade do número anterior. “Eu sabia – disse o general inimigo -, que os soldados de Qi eram covardes: eles estão no nosso território só há três dias, e mais da metade deles já fugiu!”.
A “Estratégia da Informação Errada” foi aconselhada a Qi por Sun Bin (“o mutilado”, descendente de Sun Wu, destacado consultor militar da era dos Estados Guerreiros da China e divulgador de “A arte da guerra”, de Sun Tzu, 544-496 a. C.), aluno do misterioso sábio Wang Li, o temível Mestre do Vale do Demônio (“A arte da guerra – os documentos perdidos. Sun Tzu II”, 1996).
2. Agátocles Siciliano (317-289 a. C.) tornou-se rei de Siracusa; era filho de oleiro e teve sempre vida criminosa logo jovem. Aliou-se ao cartaginês Amílcar e seu exército na Sicília, e, certa manhã, reuniu o povo e o Senado de Siracusa como se fosse consultá-los. E a um sinal combinado fez com que seus soldados matassem todos os senadores e os homens mais ricos da cidade. Agátocles subordinou Siracusa, derrotou os cartagineses, obrigando-os a deixar a Sicilia e irem para a África.
Recomenda Nicolau Maquiavel (1469-1527): são duas as maneiras de um Príncipe chegar ao principado: pela maldade, “por vias contrárias a todas as leis humanas e divinas”; ou através do consentimento e do favor de seus conterrâneos. É de notar-se – diz o teórico do Estado moderno -, “aqui, que, ao apoderar-se dum Estado, o conquistador deve determinar as injúrias que precisa levar a efeito, e executá-las todas de uma só vez, para não ter que renová-las dia a dia” (“O Príncipe”, cap. XVIII, “Dos que alcançaram o principado por meio do crime”).
3. As guerras da Revolução Francesa, quando Napoleão Bonaparte foi chefe de governo, duraram de 1799 a 1815. Em 1812 o exército francês somava mais de 1 milhão de homens em armas e as principais potências européias – à exceção da Rússia – tinham sido por ele derrotadas em seus próprios territórios. Carl Von Clausewitz (1870-1831), estrategista militar prussiano, já considerando pioneiras as idéias de Maquiavel, ligando diretamente a arte de guerrear a de governar, leva às últimas conseqüências a experiência do “furacão francês”: a guerra é a continuação da política por outros meios (“Uma história da guerra”, John Keegan, 1995).
4. No Iraque eram quase três horas da manhã. Um helicóptero Apache a 12 quilômetros da usina elétrica de base de radar que protegia Bagdá. O sensor infravermelho apontava ao piloto um minúsculo quadrado a dançar, com tempo de vôo de 20 segundos para o míssil Hellfire explodir o alvo: “Esta é para você Saddam”, disse, lançando-o. Na Casa Branca, George Bush (pai), Quayle, Scowcroft e Sununu viam televisão num pequeno estúdio privado, em meio ao som de bombas misturadas às vozes de repórteres. “Exatamente como foi programado” – disse Bush “visivelmente aliviado” – descreve Bob Woodward (“Os comandantes”, 1991).
Em Tempo: no atual genocídio palestino, (pelo menos 257 crianças morreram e 1.080 ficaram feridas – um terço das vítimas registradas –, declarou a ONU em 9/1/2009), a “Operação Chumbo Grosso” teve seis meses de planejamento secreto, segundo correspondentes e analistas ouvidos pelo jornal britânico The Guardian. Supersônicos americanos F-16 Block 60, os mais novos da linha, lançam bombas do tipo GBU-39, guiadas à laser e navegação por satélite/GPS de alta definição (“O Estado de S. Paulo”, 29/12/2009). Mas o sionismo israelita acusa o Hamas de “romper a trégua”, com foguetes.
*Médico, doutorando em Economia Social e do Trabalho (Unicamp), membro do Comitê Central do PCdoB.
Fonte: O Jornal