Mas iam. Iam naquele passo cauteloso de velho. No rosto, aquele ar beato, como se tivessem tirando sarro de tudo.

      Porque cara de velhinho é assim: a gente fica achando que com tudo se encantam, mas na verdade é puro deboche. É como aquele velho que vi num filme: passava o pano úmido no chão do aeroporto e sentava pra ver todo mundo se esborrachar.

      Tinham os dois ido comprar um quarto de café. Algo que moleque faz num instante, eles levaram meia hora só nos quinhentos metros que separam o sobrado de esquina, da venda de Zé Eduardo.

      Agora, vinham de volta – dia santo, sem a pressa da agonia, sem a fome de outros tempos. E, como brinquedo que perde a corda, foram parando.

      Pararam. E ficaram ali, como se fossem saltar uma vala, mas faltasse a coragem. Pareciam investigar na memória; resolver mesmo o sentido de tudo aquilo – estar ali… indo pra onde mesmo?

      Marcelo, ajudante de Zé Eduardo, veio de lá. Pegou no braço de seu Olegário. O velho reagiu como se despertasse. Fez uma cara de contrafeito, depois de agradecido, depois de desamparado. Dona Irina acionou as molas dos tornozelos e pôs-se a acompanhar o marido.

      Foram bem uns quarenta minutos de suplício. Muitas foram as paradas para as consultas interiores – dois bonequinhos de cera, plenos de certezas pretéritas, faltos de dúvidas futuras.

      Quando finalmente subiram os degraus do sobrado e fecharam atrás de si a porta, a rua deixou seu estado de suspensão, como se tivessem reacionado um projetor.