A literatura amazônica e os 100 anos de Dalcídio Jurandir
Mais de cem pessoas superlotaram um auditório da Universidade Federal do Pará (UFPA) na tarde de quarta-feira (28) para prestigiar o seminário “Literatura Amazônica – 100 anos de Dalcídio Jurandir”, realizado no âmbito do Fórum Social Mundial (FSM) em Belém (PA). Adalberto Monteiro, presidente da Fundação Maurício Grabois e membro da direção nacional do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), fez a apresentação do evento com um breve resumo da história de Dalcídio Jurandir.
Segundo ele, a riqueza da Amazônia não se resume à rica diversidade material da região. Há também a riqueza “imaterial” – termo cunhado pelo ex-ministro da Cultura, Gilberto Gil, segundo Adalberto Monteiro. Para ele, a obra deste talentoso escritor paraense tem um significado muito importante para a literatura brasileira e, infelizmente, ainda é desconhecida pelas novas gerações.
Adalberto Monteiro explicou que o escritor teve a vida ligada à grande obra amazônica que escreveu. Dez romances completam a saga Extremo-Norte: Chove nos Campos de Cachoeira, Marajó, Três Casas e um Rio, Belém do Grão Pará, Passagem dos Inocentes, Primeira Manhã, Ponte do Galo, Os Habitantes, Chão dos Lobos e Ribanceira. Há ainda o romance Linha do Parque, sobre operários do porto do Rio Grande do Sul, da chamada série “Extremo-Sul”, embora composta de um único livro – em que está registrada a história do movimento operário no Rio Grande do Sul entre 1895 e 1952.
Premiada obra dalcidiana
Dalcídio Jurandir nasceu em Ponta de Pedras, Ilha do Marajó (PA), em 10 de janeiro de 1909, e faleceu em 1979, deixando como legado a maior obra literária da Amazônia. Desde jovem filiado ao Partido Comunista do Brasil, enfrentou duas prisões. Na primeira, em 1936, ficou detido durante dois meses por ter participado ativamente do movimento da Aliança Nacional Libertadora (ANL). Na segunda, em 1937, ficou por quatro meses preso devido à participação na campanha contra o fascismo.
A premiada obra dalcidiana, publicada a partir de 1940, contém os reflexos da crise social e política da primeira metade do século XX, tendo como pressuposto básico a idéia de utilizar-se da arte literária como campo de luta — sempre movido por sua indignação social. Em 1940, ele ganhou o prêmio Dom Casmurro de Literatura com o romance Chove nos Campos de Cachoeira. Em 1972, a Academia Brasileira de Letras concedeu a Dalcídio Jurandir um prêmio pelo conjunto de sua obra — entregue por Jorge Amado.
Matéria sobre Dalcídio
Em seguida, Adalberto Monteiro apresentou os integrantes da mesa: Carlos Pará, jornalista e pesquisador; Gunter Karl Pressler, professor de Teoria Literária, especialista em Dalcídio Jurandir; José Varella Pereira, assessor de relações institucionais do Museu do Marajó (MdM); e Neuton Miranda, gerente regional da Secretaria do Patrimônio da União.
Participaram do debate também o diretor de de Comunicação e Publicações da Fundação Maurício Grabois, dirigente nacional do PCdoB e editor do jornal Classe Operária, José Carlos Ruy, e o direotor de Temas Ecológicos e Ambientais da Fundação e também dirigente nacional do PCdoB, Aldo Arantes.
Carlos Pará, que também é editor da revista Pará Zero Zero que traz em sua última edição uma matéria especial sobre Dalcídio Jurandir, fez um resumo da conjuntura em que o escritor paraense iniciou e desenvolveu a sua obra. Intercalando explicações com a leitura de trechos do texto da revista Pará Zero Zero, Carlos Pará situou o momento histórico que levou Dalcídio Jurandir à militância na ALN e no Partido Comunista do Brasil.
Escritores clássicos
O professor Gunter Karl Pressler falou em seguida e destacou que a obra de Dalcídio Jurandir está à altura de escritores clássicos como Marcel Proust, James Joyce e Alfred Dublin. Segundo o professor, a comparação pode ser feita pela estrutura narrativa, pelo tempo narrado e pela memória do personagem e do narrador. A densidade da linguagem, que concentra poucos dias em uma história repleta de riquezas de detalhes, é outra marca da grande da obra de Dalcídio Jurandir.
Gunter Karl Pressler explicou que outra característica marcante de Dalcídio Jurandir que o iguala aos grandes escritores é a linguagem poética, metafórica. Segundo o professor, ele trabalha a fauna e a flora regional sem perder o caráter universal da narrativa. O escritor paraense, disse Gunter Karl Pressler, também imprime profundidade psicológica à sua obra, lidando com os conflitos humanos com maestria, situados no contexto social do povo brasileiro.
Projeto Nossa Várzea
José Varella Pereira, que é sobrinho de Dalcídio Jurandir, disse que o escritor pertence à categoria dos intelectuais “pés-no-chão”. Segundo ele, a academia desses intelecutuais é o mercado Ver-o-Peso, a mais movimentada feira livre de Belém. Para Varella, Dalcídio Jurandir intelectualizou a cutura popular marajoara, pertencente à Ilha do Marajó na foz do rio Amazonas. Neuton Miranda encerrou o evento com uma exposição sobre o Projeto Nossa Várzea de regularização fundiária.
O seminário foi promovido pela Fundação Maurício Grabois, com apoio da Comissão Comemorativa do Centenário de Dalcídio Jurandir; Academia do Peixe Frito; Revista Asas da Palavra; Associação de Professores para Estudos Literários de Ponta de Pedras — Dalcídio Jurandir (ASPELPP-DJ); Museu do Marajó; Diretório Central dos Estudantes da Universidade Vale do Acaraú (UVA); Centro Acadêmico de Letras da Universidade Estadual do Pará (UEPA); Centro Acadêmico de História da Universidade Vale do Acaraú (UVA); Centro Acadêmico de História da Universidade Federal do Pará (UFPA); Centro Acadêmico de Ciências Sociais da Universidade Federal do Pará (UFPA); Centro Acadêmico de Pedagogia da Universidade Estadual do Pará (UEPA); Centro Acadêmico de Secretariado da Universidade Estadual do Pará (UEPA); Comissão Pró-Associação de Pós-Graduandos da Universidade Federal do Pará.
De Belém, Osvaldo Bertolino