Dirigentes da Fundação Maurício Grabois e do PCdoB avaliam FSM
Tudo pesado, o saldo do Fórum Social Mundial (FSM) recentemente realizado em Belém (PA) é amplamente positivo. Essa é a constatação de alguns dirigentes da Fundação Maurício Grabois e do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), e de três integrantes do Comitê Internacional do FSM ouvidos para este breve balanço.
Adalberto Monteiro, presidente da Fundação Maurício Grabois e dirigente nacional do PCdoB, diz que o primeiro ponto positivo que ele destaca é a grande presença da população local. Foi um FSM mestiço e moreno, registrou. Outro ponto que chamou a atenção, diz Adalberto Monteiro, é a quantidade de bandeiras que apontam caminhos, saídas e perspectivas na direção de um mundo melhor. Segundo ele, há um fio condutor que costura e enfeixa essas bandeiras que refletem a diversidade e a heterogeneidade característica do FSM: o resgate das conquistas civilizatórias que a humanidade perdeu com o caráter nefasto que o capitalismo adquiriu.
A fragmentação do FSM, disse, desemboca em um único leito: os dos movimentos sociais, que com suas bandeiras lutam pelo resgate do humanismo e das conquistas civilizatórias que o capitalismo não reconhece. O presidente da Fundação Maurício Grabois destaca, entre essas bandeiras, o combate à exploração predatória da Amazônia por meio de uma política de desenvolvimento sustentável; a luta pela paz no lugar da guerra; a questão dos direitos das mulheres, uma luta secular que o capitalismo não tem condições de resolver; o direito à comunicação, bloqueado pelo domínio dos monopólios midiáticos; e o direito à moradia, que ao não ser cumprido em pleno século XXI condena uma parte da humanidade a viver como nos tempos das cavernas.
Simbolismo do FSM na Amazônia
Esses são apenas poucos exemplos de que o resgate das conquistas civilizatórias é uma luta decisiva para o futuro da humanidade, enfatizou Adalberto Monteiro. Segundo ele, o debate sobre a nova luta pelo socialismo — um dos temas debatidos nos eventos que a Fundação Maurício Grabois promoveu em conjunto com mais de uma dezena de prestigiados periódicos e institutos da esquerda marxista — tem grande relevância para a atualidade.
Segundo ele, se o início dos anos 90 foi marcado pela crise do socialismo e o auge do neoliberalismo, o final da primeira década do século XXI é sacudido por uma crise econômica, financeira e ideológica que desnuda os limites históricos do capitalismo e realça o socialismo como uma alternativa rejuvenescida e viável. No âmbito desse cenário, enfatizou, emerge a revalorização do marxismo.
Para Adalberto Monteiro, o local do evento, a Amazônia brasileira, guarda um símbolo a um só tempo da pujança do país e da dimensão de seus desafios e desigualdades. É significativo, ressaltou, que no local — no Sul do Estado do Pará — tenha ocorrido a principal resistência armada à ditadura militar, a Guerrilha do Araguaia — que teve em seu comando o revolucionário Maurício Grabois, patrono da Fundação por ele presidida. Outro simbolismo para os marxistas, lembrou Adalberto Monteiro, foi o fato de o seminário “A crise do capitalismo e a nova luta pelo socialismo”, realizado no âmbito do FSM, ter acontecido no Estado do Pará, Estado natal de João Amazonas — destacado brasileiro e histórico dirigente e ideólogo do PCdoB.
Pluralidade das atividades do FSM
A luta pelo resgate das conquistas civilizatórias, disse o presidente da Fundação Maurício Grabois, tem grande impacto no projeto socialista. Ele lembrou a consigna de Karl Marx, segundo a qual os trabalhadores só podem se libertar libertando consigo toda a humanidade — que, destacou, continua atualíssima. Para Adalberto Monteiro, as organizações que representam os trabalhadores, os partidos comunistas progressistas e os movimentos sociais precisam ter a sensibilidade de acolher essas bandeiras humanistas e civilizatórias em suas atuações.
Adalberto Monteiro avaliou que as atividades da Fundação Maurício Grabois foram realizadas com êxito por conta dos temas escolhidos para os debates, da elevada contribuição dos conferencistas e da qualidade das parcerias estabelecidas em seminários diversificados — todas com sucesso de público e de crítica, lembra. Em todas elas, o espaço foi totalmente ocupado; em algumas faltou lugar para acomodar os interessados. Ele também destacou a parceria com a Fundação Perseu Abramo, que vem desde o FSM de 2003, e com o Foro de São Paulo.
Para ele, a pluralidade das atividades da Fundação Maurício Grabois também merece registro como algo de elevada importância. Os seminários, segundo Adalberto Monteiro, foram abrangentes e contaram com a co-promoção de organizações do movimento social, partidos e Organizações Não-Governamentais (OGNs). Ele destaca também que a Fundação Maurício Grabois teve a sensibilidade de abordar temas ligados à Amazônia, fato atraiu a população local e muitas entidades populares do Estado do Pará. Adalberto Monteiro lembra, como exemplo, o seminário “Literatura Amazônica — 100 anos de Dalcídio Jurandir”, que ressaltou o aspecto cultural da região.
Riqueza “imaterial” da Amazônia
Segundo ele, a participação de entidades locais — Academia do Peixe Frito, revista Asas da Palavra, Associação de Professores para Estudos Literários de Ponta de Pedras, Museu do Marajó, diretório Central dos Estudantes da Universidade Vale do Acaraú (UVA), Centro Acadêmico de Letras da Universidade Estadual do Pará (UEPA), Centro Acadêmico de História da Universidade Vale do Acaraú (UVA), Centro Acadêmico de História da Universidade Federal do Pará (UFPA), Centro Acadêmico de Ciências Sociais da Universidade Federal do Pará (UFPA), Centro Acadêmico de Pedagogia da Universidade Estadual do Pará (UEPA), Centro Acadêmico de Secretariado da Universidade Estadual do Pará (UEPA), Comissão Pró-Associação de Pós-Graduandos da Universidade Federal do Pará — demonstrou a importância do tema escolhido.
Para o presidente da Fundação Maurício Grabois, a riqueza da Amazônia não se resume à rica diversidade material da região. Há também a riqueza “imaterial” — termo cunhado pelo ex-ministro da Cultura, Gilberto Gil, segundo Adalberto Monteiro. Ele enfatiza que a obra deste talentoso escritor paraense tem um significado muito importante para a literatura brasileira e, infelizmente, ainda é desconhecida pelas novas gerações. Adalberto Monteiro explicou que o escritor teve a vida ligada à grande obra amazônica que escreveu.
Adalberto Monteiro diz que se surpreendeu ao constatar como Dalcídio Jurandir é querido na Amazônia, sobretudo no Estado do Pará. Isso demonstra, diz ele, um outro lado da riqueza da região — que é valor estético e cultural dos moradores locais. O presidente da Fundação Maurício Garabois ressalta que essa cultura precisa ser difundida para que a sua riqueza possa ser conhecida no Brasil e no mundo. Ele finaliza destacando que, além desta diversidade de temas, o FSM teve o grande mérito de pautar o socialismo como alternativa à crise do capitalismo.
Aldo Arantes: salto no debate político
Aldo Arantes, diretor de Temas Ecológicos e Ambientais da Fundação, também fez uma avaliação abrangente sobre o FSM. Ele destaca que o evento é um contraponto à ideologia neoliberal do Fórum Econômico de Davos, que reúne anualmente a elite econômica do mundo na Suíça. Para ele, como Davos não tem como dar respostas aos problemas que castigam o mundo, o FSM emerge como uma alternativa para se fazer o debate de idéias sobre os caminhos para enfrentar a crise.
Segundo Aldo Arantes, que também é da direção nacional do PCdoB, apesar da grande diversidade de posições o FSM definiu uma posição antiimperialista e anticapitalista incontestável. Ele destaca como evidência maior dessa constatação a presença de cinco presidentes progressistas — Luis Inácio Lula da Silva (Brasil), Hugo Chávez (Venezuela), Rafael Correa (Equador), Evo Morales (Bolívia) e Fernando Lugo (Paraguai) — no evento.
Aldo Arantes enfatiza que a crítica de alguns presidentes sul-americanos ao capitalismo, propondo como alternativa o socialismo, é um fato da maior relevância tendo em vista a apatia que havia tomando conta do debate político progressista desde o início dos anos 90. Para ele, a presença e as mensagens dos presidentes no FSM representaram um considerável salto no debate político. Aldo Arantes também destaca a defesa da unidade progressista latino-americana e caribenha como um dado importante na fala dos presidentes durante o ato político no FSM.
Posições sobre a soberania da Amazônia
Ele também destacou a parceria entre a Fundação Maurício Grabois e a Fundação Perseu Abramo em alguns eventos promovidos no âmbito do FSM. E registrou o grande interesse demonstrado por temas como a luta pela paz e contra a guerra, a integração da América Latina, as realizações e perspectivas do governo Lula e a defesa da Amazônia com soberania nacional. Aldo Arantes, que dirigiu a mesa do seminário “Amazônia: soberania e desenvolvimento” — junto com o ex- ministro do governo Lula e presidente da Fundação Perseu Abramo, Nilmário Miranda —, os temas propostos pela Fundação Maurício Grabois foram acertados e lembrou que a parceria com a Fundação Perseu Abramo tem se mostrado positiva e precisa ser aprofundada.
Para Aldo Arantes, o debate sobre a Amazônia foi uma oportunidade importante para a manifestação das posições que defende a floresta e suas riquezas como patrimônio do povo brasileiro — refutando a tese de que a Amazônia é “patrimônio da humanidade”, sofisma que reforça os argumentos dos grupos privados que almejam se apoderar da região. O dirigente da Fundação Maurício Grabois argumenta que foi importante enfatizar, no seminário, que é preciso a presença do Estado na Amazônia não só como força militar, mas também com atenção à saúde, à educação e à cultura, e com investimentos maciços em ciência e tecnologia.
Aldo Arantes também ressaltou que a realidade da Amazônia precisa ser estudada para se fazer a defesa da floresta e das suas riquezas de forma consciente. Ele lembra que trata-se de uma realidade que não é uniforme e precisa ser considerada em sua diversidade e em seus aspectos multifacetados. Só assim, explicou, pode-se ter uma base real para a defesa da Amazônia como patrimônio nacional, do povo brasileiro e dos demais povos que habitam a região nos países vizinhos.
Reforço das atividades culturais
E não há outra forma de se fazer isso, diz Aldo Arantes, a não ser por meio de investimentos pesados em ciência e tecnologia. Não faz sentido, explicou, defender a Amazônia como um santuário. É preciso um combate enérgico ao desmatamento e à destruição da floresta, afirma. Mas, afrima, não é correto fazer isso sem levar em conta a importância do conhecimento da Amazônia em todos os seus aspectos.
O dirigente da Fundação Maurício Grabois também comentou o significado do seminário “Literatura Amazônica — 100 anos de Dalcídio Jurandir”, realizado no âmbito do FSM. Ele lembrou que um dos debatedores — o professor Gunter Karl Pressler, professor de Teoria Literária, especialista em Dalcídio Jurandir — que classificou a obra dalcidiana como comparável à de grandes escritores da literatura universal. E ressaltou que Dalcídio Jurandir ao mesmo tempo foi um militante comunista, engajado nas atividades políticas do país.
Aldo Arantes termina a sua avaliação destacando que as atividades da Fundação Maurício Grabois foram importantes para politizar o debate sobre diferentes temas. Por isso, foram, segundo ele, todas exitosas. O dirigente da Fundação Maurício Grabois defende que, nas próximas edições do FSM, ao lado dessa tendência de politização de temas candentes da luta dos povos sejam reforçadas as atividades culturais a fim de atrair mais segmentos da população para o debate político.
Ronald Freitas: posicionamento diante da crise
Outro dirigente da Fundação Maurício Grabois, o diretor de Políticas Públicas Ronald Freitas, disse que a realização do evento no Estado do Pará mostrou-se uma decisão acertada e exitosa. Ele, que também é da direção nacional do PCdoB, destaca o volume de pessoas — mais de cem mil, segundo os organizadores — como uma demonstração de êxito do FSM. Para ele, existem dois vetores que contribuíram para esse saldo amplamente positivo: a onda de avanços políticos progressistas na América Latina e a crise econômica.
Ele agrega outros elementos, como o fim do reinado de George W. Bush com a eleição de Barack Obama nos Estados e a luta pela paz diante do massacre perpetrado pelo Estado israelense em Gaza, como condicionantes para os êxitos do FSM. Para Ronald Freitas, esse conjunto de fatores permitiu que o FSM adotasse um posicionamento mais politizado. O dirigente da Fundação Maurício Grabois destaca que a demonstração mais elevada deste espírito politizado foi o ato político dos presidentes progressistas — que tiveram um posicionamento declaradamente antiimperialista, de luta pela paz e pelo desenvolvimento.
Segundo Ronald Freitas, os presidentes mostraram que a América Latina vai definindo um novo rumo, com um posicionamento firme diante da crise, diagnosticando suas causas e apontando seus responsáveis. Ele disse ainda que o povo no FSM também mostrou os motivos pelos quais a conta do desastre neoliberal não pode ser paga pelos trabalhadores. Segundo o dirigente da Fundação Maurício Grabois, o FSM, que nasceu com uma proposta de pluralidade e fraternidade, vai plasmando um novo instrumento de luta popular. Ele destaca, nesse universo, o grande interesse da juventude pelos temas debatidos durante o evento.
Temas da mais alta relevância
Ronald Freitas participou de dois eventos de cunho institucional no âmbito do FSM: o 6º Fórum Parlamentar Mundial (FPM) e o Fórum de Autoridades Locais da Amazônia (FALA), no marco do Fórum de Autoridades pela Inclusão Social e pela Democracia Participativa (FAL). O FPM, que nasceu na primeira edição do FSM realizada em Porto Alegre (RS), contou com a presença de representantes dos legislativos da Alemanha, Dinamarca, Espanha, Grécia, Itália, Portugal, Uruguai e Venezuela — além de autoridades municipais, estaduais e federais brasileiras e de diplomatas das Nações Unidas. O FAL também nasceu em 2001 em Porto Alegre, reunindo autoridades locais democráticas de diferentes regiões do mundo.
O dirigente da Fundação Maurício Grabois registra que apesar da pouca participação os debates nos dois eventos foram de bom nível, o que resultou em uma carta que, entre outros assuntos, aponta quem deve pagar pela atual crise econômica, denuncia as causas do desmatamento na Amazônia e combate as guerras no Oriente Médio. Ele diz também que o FALA aprovou a “Carta de Belém”, na qual foram analisados a crise econômica global, o efeito do consumismo sobre a natureza e o papel dos governos locais no enfrentamento dos problemas sociais.
Para Ronald Freitas, a Fundação Maurício Grabois marcou sua participação no FSM com eventos abordando temas da mais alta relevância. Ele coordenou a mesa do seminário “Governo Lula: realizações e perspectivas”, junto com o ex- ministro do governo Lula e presidente da Fundação Perseu Abramo Nilmário Miranda — promovido pelas duas fundações —, e destacou o evento como um dos mais importantes do FSM. O dirigente da Fundação Maurício Grabois lembra que perto de mil pessoas acompanharam atentamente as ricas exposições dos componentes da mesa.
Alemão: dilema vivido pelo FSM
Ricardo Abreu, o Alemão, secretário Nacional de Juventude e de Movimentos Sociais do PCdoB, também avaliou o FSM como amplamente positivo. Para ele, o evento superou todas as expectativas e, o mais importante, destacou, foi a participação popular. Alemão ressalta que a marcha de abertura do FSM contou com a participação de cerca de 80 mil pessoas e foi a maior manifestação política de Belém desde o movimento pelas “Diretas já!”, em meados dos anos 80.
Segundo o dirigente do PCdoB, esta edição mostrou que o FSM vive um dilema: ou se aproxima mais dos partidos e governos progressistas, que na prática vão superando o neoliberalismo, ou fica isolado, com pouca capacidade de resistência. Alemão ressalta que o ato em que os cinco presidentes falaram contra as políticas neoliberais foi uma demonstração de que o Fórum Econômico de Davos tem um contraponto político com razoável pode de influência mundial. E o FSM, disse, precisa se inserir cada vez mais no debate politizado para se consolidar como um efetivo espaço de resistência e de alternativas concretas.
Liege Rocha: convergência de idéias
Liege Rocha, que participa do Comitê Internacional representando a Federação Democrática Internacional de Mulheres (Fedim), disse que esta edição do FSM foi a mais importante porque o debate sobre a crise permeou os debates. Ela ressalta também o ato com os presidentes como o acontecimento mais destacado do evento. Ela, que também é dirigente nacional do PCdoB, diz que a experiência vai mostrando que o FSM precisa concentrar mais os temas para evitar a grande dispersão que tem marcado os eventos. Segundo Liege Rocha, é possível organizar o FSM com debates convergentes.
Ela explica, por exemplo, que as assembléias temáticas coincidiram com as assembléias por segmentos — mulheres, jovens, negros etc. Faltou, afirma, senso de organização. Mas, problemas à parte, Liege Rocha enfatiza que esta edição do FSM foi a mais importante porque dela saíram propostas concretas — como a realização de uma semana de ação contra a crise no mês de março. Ela lembra ainda que a Fundação Maurício Grabois jogou um peso considerável no FSM ao promover, em conjunto com outras organizações, debates sobre os temas mais relevantes da atualidade.
Liege Rocha também destaca a marcha de abertura, na qual o PCdoB e as entidades de massas — como a União Brasileira de Mulheres (UBM), a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), a União da Juventude Socialista (UJS), a União Nacional dos Estudantes (UNE) e o Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz) — apareceram com um bom visual. Ela ressalta ainda que a “Tenda da Paz” se transformou em um espaço de convergência de idéias, no qual os painéis que denunciaram o terror do Estado de Israel em Gaza se destacaram. Para Liege Rocha, foi importante aquele espaço, que se transformou em referência para a distribuição de idéias e materiais a favor da paz e contra a guerra.
Jornada dos movimentos sociais
Outro integrante do Comitê Internacional do FSM, Rubens Diniz, secretário-executivo do Cebrapaz e membro da coordenação da “Aliança Social Continental” — uma organização que busca a coordenação dos movimentos sociais da América Latina —, diz que o importante é avaliar a essência do evento. Para ele, o FSM foi bem sucedido no seu propósito de debater idéias que se contrapõem à lógica do neoliberalismo, do chamado pensamento único. Rubens Diniz destaca que esses debates vão abrindo caminhos para uma ruptura com neoliberalismo, tendo como alvo a constituição de uma nova ordem internacional.
Ele lembra que não faz tempo o centro da luta democrática na América Latina era o combate ao projeto de anexação da região pelos Estados Unidos por meio da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Hoje, como demonstrou o ato com os cinco presidentes, já se fala em integração da América Latina de forma soberana e solidária, ressalta. Rubens Diniz explica que o FSM é um espaço de luta de idéias, de polêmicas e de debates, mas é também um lugar de definição de ações conjuntas.
Ele informa, por exemplo, que entre os dias 28 março e 4 abril haverá uma jornada dos movimentos sociais que protestará contra a política de jogar nas costas dos trabalhadores e dos povos o peso da crise. As ações, explica Rubens Diniz, coincidem como o início da reunião do G-20, no dia 28 de março; com o “Dia da Terra”, 30 de março, lembrado pelos palestinos desde a histórica resistência que em 1976, quando vários palestinos da Galiléia (território ocupado em 1948) enfrentaram a invasão e ocupação de suas terras pelo Estado em Israel; e os 60 anos da existência da imperialista Aliança do Atlântico Norte (Otan), no dia 4 de abril.
Participação da juventude
Haverá manifestações também contra a guerra e de solidariedade ao povo palestino, diz ele. O objetivo, ressalta, é exigir que os crimes de guerra do Estado israelense sejam julgados e que os responsáveis paguem por seus atos. Rubens Diniz informa ainda que as manifestações darão visibilidade às conseqüências da reativação da 4ª Frota pelos Estados Unidos, instrumento da política militar norte-americana para a América Latina — que tem como pano de fundo o controle das reservas naturais da região. Segundo ele, dá para imaginar o que representa um navio militar atracado em algum lugar do rio Amazonas. E enfatiza que a 4ª Frota pode ter vínculos com a Otan e exercer até mesmo o controle de rotas comerciais na região.
Ticiana Álvares, representante da Federação Mundial da Juventude Democrática (FMJD) no Comitê Internacional, também avalia o FSM como “muito bom”. Para ela, além do ato com os presidentes a grande participação da juventude foi outro fato relevante. Ticiana Álvares lembra que muitos jovens participaram do evento de forma espontânea — foram ao FSM com disposição de ouvir e observar as idéias em debate. Ela lembra que no acampamento da juventude havia mais de dez mil jovens. Para Taciana Álvares, a destacada participação da juventude revela que as idéias democráticas e progressistas se renovam e dão novo fôlego a espaços de resistência ao neoliberalismo, como FSM.