Matutano
Ah, muié! Nóis tinha tanto amô
E fumo brigá desse jeito!
Acabamo por separá!!!
-O que foi que desandô?
Ocê num mi qué mais;
Si ocê num me qué,
Eu tamén num quero!
Tudo si acabô, sim sinhô
E foi anssim que aconteceu;
Agora samo moderno
Nóis vai fazê de conta
Que samo gente da cidade
Nóis fiquemo anssim mudo
As criança óia pra nóis
I num intendi nada
Mai nóis intendi tudo
Nóis que prometemo
Ficá dijunto inté a morte
Si separamo:
Ocê foi lá pro sur,
E eu fui pro norte!
As criança ficô co´a vó
Nóis achava que anssim é mió
Jurei préla que num quero
Vê ela, ném prum espêio
Ela disse que eu tamém
“Vô ficá pra escanteio”
Eu disse que ela é gorda
Ela disse que eu sô feio
Eu disse intão préla sumí
Que o Brasir é grande demais
Ela disse que nem por dinhêro
Si dispunha a vortá atrais
Ela deu um saluço
E eu maomeno tamén
Deitei cabelo na estrada
Ela pegô um trem….
Mai, onti nóis se encontremo
Lá drento da sacristia
Na igreja de São José
I aos pé da Virge Maria
Ela é muié de respeito
Eu sô home de muita fé
Lá nóis se viu e choremo
Na frente do Deus menino
Se beijemo, tocô o sino
Prumeno acho que tocô
Ela tremia até as perna
Fui pra riba dela cum fogo
Fogo que num se acabô
Demo tanto bêjo gostoso
Bêjo cheio de amô
Ela me deu um abraço
Pertado; quase caí….
Nóis falemo das criança:
-Nóis qué elas dijuntinho
Não lá na casa da vó
Mais lá, no nosso ranchinho.
Eu disse préla : o Brasir é grande
Mais, maió é nosso amo!
I ela me disse chorano:
O Brasir póde sê grande
Mais nóis ele num separô
Nóis samo um casár de bobo:
Queremo é casá de novo
Cum fé em Deus, e paiz na guia
Vortemo a sê namorado
Aos pé da Virgem Maria
Prometemo a São José
O protetô das famía
-Nóis prefere inté morrê
Do que se apartá um dia.
Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS. É natural de Cravinhos-SP. É Físico, poeta e contista. Tem textos publicados em 7 livros, sendo 4 “solos e entre eles, o Pequeno Dicionário de Caipirês e o livro infantil “A Sementinha” além de três outros publicados em antologias junto a outros escritores.