Por Luiz Carlos Orro

Por Luiz Carlos Orro, membro e presidente estadual do Comitê Central do PCdoB e secretário de Esporte e Lazer de Goiânia, no jornal Diário da Manhã

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Enquanto cerca de 43 milhões de brasileiros padecem com o miserável salário mínimo de R$ 465,00, como já analisamos na semana passada, os bancos no Brasil lucram cifras astronômicas com a manutenção da taxa de juros mais alta do mundo. Em 2005, o lucro dos cinco maiores bancos brasileiros – Bradesco, Itaú, Unibanco, Banco do Brasil e Caixa – atingiu o volume recorde de R$ 18,4 bilhões, o melhor resultado da história do sistema bancário brasileiro, de acordo com a consultoria Economática. Em 2007, quatro bancos privados lucraram R$ 21,7 bilhões: Itaú, R$ 8,4 bilhões; Bradesco, R$ 8 bilhões; Unibanco, R$ 3,4 bilhões; e Santander, R$ 1,8 bilhão. Em breve veremos novos resultados fantásticos quando forem divulgados os balanços dos bancos de 2008.

Arrisca a cabeça dos simples mortais esquentar e entrar em curto, com tantos bilhões e bilhões. Mas por trás dos números há uma realidade que as elites econômicas querem deixar quieta. Nós, não. Queremos contribuir para arrancar a casca da ferida, desvendar o véu. Lênin já dizia que o trabalhador, se quiser se livrar da exploração em que vive, precisa compreender a realidade, entender até de economia. Atualmente, a taxa Selic está fixada em absurdos 12,75% ao ano. Ela é chamada de taxa básica de juros da economia e dela derivam as demais taxas cobradas pelos bancos aos seus clientes, como se divulga de maneira superficial e marota.

Mas o que poucos sabem é que o seu nome de batismo é Sistema Especial de Liquidação e Custódia – Selic-, e se destina precipuamente a fixar a remuneração para os títulos da dívida pública emitidos pela União. Aqui é que está o pulo do gato, a verdadeira razão de ser mantida nas alturas. O Banco Central vem mantendo a maior taxa de juros do planeta para que os investidores do mundo inteiro apliquem seus capitais nos títulos federais brasileiros, os que pagam mais. E para remunerar regiamente os donos do capital financeiro nacional e transnacional, o governo federal, além de pagar juros altíssimos, tem que economizar boa parte do que arrecada para garantir o chamado superávit primário, que em 2008 superou 4% do orçamento federal.

Essa é a lógica do capital financeiro, e o governo Lula ainda está refém desse mecanismo herdado, de transferência de renda para o bolso dos mais ricos, que ficam ainda mais ricos a cada ano. Enquanto isso, os demais setores da economia – agropecuária, indústria, comércio e serviços – penam para manter e ampliar a produção, empregos, os negócios enfim, castigados pela extorsão dos bancos a quem são obrigados a recorrer para capital de giro e investimentos.

“O pior impacto da Selic é sobre as contas públicas e sobre o câmbio. Quando as taxas internas estão muito mais elevadas que as externas, há um aumento do ingresso de dólares apreciando o real e tornando as exportações mais caras e as importações mais baratas”, explica Luís Nassif em artigo publicado no sítio Vermelho. E para melhorar a compreensão do gigantismo dos lucros dos bancos, valem algumas comparações: só o lucro dos quatro maiores bancos privados em 2007 daria para cobrir o orçamento municipal de uma cidade como Goiânia, com 1,3 milhão de habitantes, por doze anos.

Ou então: em 2007 o governo federal gastou R$ 21 bilhões com 11 milhões de famílias beneficiárias da Bolsa-Família, e nesse mesmo ano as quatro “famílias” financeiras lucraram R$ 21,7 bilhões, com já divulgou a Folha de S.o Paulo. Por isso a taxa continua a mais alto do mundo! Para garantir exorbitantes lucros aos banqueiros e à agiotagem institucionalizada, que pouco imposto paga. Se banco pagasse imposto como a classe média, o Brasil seria o paraíso.

São disparidades como essas que ajudam a manter o nosso País como um dos campeões mundiais da desigualdade de distribuição de renda, que mantêm o abismo social quem vem desde os tempos da escravidão. Em nosso País 1% dos brasileiros mais ricos (1,7 milhão de pessoas) detém renda equivalente aos 50% mais pobres (86,5 milhões de pessoas). Tais níveis de desigualdade nos colocam no patamar de Serra Leoa e Zâmbia, pequenos países da África.

Esse triste retrato precisa mudar, e mudar mais rápido. Tem ganhado novas cores com as políticas de distribuição de renda da era Lula (valorização dos salários, Bolsa-Família, Fome Zero, etc), mas ainda cores tímidas, insuficientes. Embora o País tenha conseguido melhorar alguns de seus principais indicadores sociais, a distribuição de renda ainda é um dos piores problemas do país, como reconhece o próprio Ministério do Planejamento (Radar Social).

Esse fosso social gera a desesperança para milhões de excluídos, e as consequências estão aí, batendo na nossa cara: aumento constante da violência urbana e da criminalidade. Embora haja gente pomposa da direita espalhando armadilhas diversionistas por aí, vamos nos concentrar no debate de alto nível, procurando ir ao cerne dos problemas e apresentando propostas e soluções. Os juros precisam baixar para os níveis internacionais, já.