Das veiz
Das veiz eu gosto de apreciá as natureza! Nóis que é da roça, muitas das veiz adivinha se vai chovê; se o sór vai saí; se o vento é de chuva ô de tempestade; quar é a hora de prantá o arrois, o mío ô o fejão. Nóis sabe. E num é que ninguém ensinô nóis não; – só se for Deus.
Mais, na natureza tem os outro ser vivente que nóis arrespeita. Tem as borboleta que enfeita as mata ( eu aprecio por demais uma borboleta chamada "dama da noite" que tem deiz veiz o tamanho das outra, toda azur, e que só sai no poente do sór, bem no lusco-fusco). Gosto dos passarim tamém; inda mais se fôr bunito e subé cantá. Mais os outro bicho muitas das veiz nóis mata pra cumê. Eu só nunquinha que tinha pensado nas inteligença dos bicho, inté que eu mêmo vi com meus óio, que a terra há de cumê.
Num domingo com sór de estralá mamona, eu tava na rede da varanda dando um cochilo. Acordei com um bem-te-vi cantando ali no balaustre, numa lunjura de uma braça. Na varanda tinha um trem véio que a muié dexô ali pra numseioquê. Em riba duma mesa, tinha um vidro branco que eu achava que era remédio. O vidro de boca estreita tava pela metade de água (parece que a muié colocava flôr nele, como se fosse vaso). O bem-te-vi viu o vidro e ficô rodano em vorta. Deu uma ô duas bicada no vidro duro; dispois subiu no gargalo e enfiô o bico: a água tava muito embaxo. Tentiô, pelejo, umas deiz veiz. Desacorçoado ele vuô, foi embora. Pensei que ele tinha desistido, quar o quê! Ele vortô cuma pedrinha no bico, subiu no gargalo e jogô a pedra lá dentro e azulô, foi embora. Mais ele vortô mais deiz, vinte, trinta veiz., e cada veiz tacava a pedrinha lá dentro. Eu cansei de vê aquilo e dormi, tarveis uma meia hora.
Quando acordei, vi o vidro que tava com pedra até o pescoço. Ao lado do vidro, o bem-te-vi com a famía ( uma fema e dois fióte). Um de cada veiz subia no gargalo do vidro e tomava água à vontade.
Das veiz eu penso os home são anssim tamém. A diferença é que muitos deis adesiste de carregá pedra, mêmo que isso seja bão pra famía e pra si próprio.
Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS. É natural de Cravinhos-SP. É Físico, poeta e contista. Tem textos publicados em 7 livros, sendo 4 “solos e entre eles, o Pequeno Dicionário de Caipirês e o livro infantil “A Sementinha” além de três outros publicados em antologias junto a outros escritores.