Por Osvaldo Bertolino

O economista norte-americano Joseph Stiglitz afirmou que o Brasil possivelmente entrará em recessão. Tecnicamente uma recessão significa dois trimestres de queda no PIB. Com a economia mundial no ritmo que está a possibilidade disto é alta. Stiglitz alerta que a queda da taxa de juros promovida pelo Banco Central (BC) não é suficiente para reverter a situação.

Segundo o economista, o Brasil tem um sistema financeiro peculiar. A queda pode ter sido importante, mas a taxa permanece sendo uma das maiores do mundo. Ele aponta a dimensão da crise em âmbito mundial para fundamentar a constatação. ''Primeiro tentaram nos convencer de que a crise não atingiria a Europa, depois que não faria sofrer aos países em desenvolvimento. Hoje, com os dados que vemos do Brasil e de outras economias, está claro que estamos entrando na primeira grande recessão do período pós-guerra'', disse.

Com a queda do desempenho de Estados Unidos, Europa e Japão, as exportações dos países “emergentes” estão desabando, lembrou. Nesta semana, a China alertou que a redução de 25% em suas vendas era a maior desde que o país começou a abrir sua economia, nos anos 70. No Brasil, os efeitos também serão sentidos. Além da situação internacional, Stiglitz alerta que o Brasil ainda sofrerá com a queda nos preços das commodities. ''Os preços internacionais ainda estão baixos, o que vai contribuir para enfraquecer a economia (brasileira)'', disse.

Por Osvaldo Bertolino

O economista norte-americano Joseph Stiglitz afirmou que o Brasil possivelmente entrará em recessão. Tecnicamente uma recessão significa dois trimestres de queda no PIB. Com a economia mundial no ritmo que está a possibilidade disto é alta. Stiglitz alerta que a queda da taxa de juros promovida pelo Banco Central (BC) não é suficiente para reverter a situação.

Segundo o economista, o Brasil tem um sistema financeiro peculiar. A queda pode ter sido importante, mas a taxa permanece sendo uma das maiores do mundo. Ele aponta a dimensão da crise em âmbito mundial para fundamentar a constatação. ''Primeiro tentaram nos convencer de que a crise não atingiria a Europa, depois que não faria sofrer aos países em desenvolvimento. Hoje, com os dados que vemos do Brasil e de outras economias, está claro que estamos entrando na primeira grande recessão do período pós-guerra'', disse.

Com a queda do desempenho de Estados Unidos, Europa e Japão, as exportações dos países “emergentes” estão desabando, lembrou. Nesta semana, a China alertou que a redução de 25% em suas vendas era a maior desde que o país começou a abrir sua economia, nos anos 70. No Brasil, os efeitos também serão sentidos. Além da situação internacional, Stiglitz alerta que o Brasil ainda sofrerá com a queda nos preços das commodities. ''Os preços internacionais ainda estão baixos, o que vai contribuir para enfraquecer a economia (brasileira)'', disse.

Números do PIB

Segundo Stiglitz, o Brasil já é uma das “vítimas inocentes” da crise mundial e pode sofrer ainda mais. “O caso do Brasil mostra que os Estados Unidos conseguiram exportar sua recessão”, afirmou. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o economista, que lidera uma comissão da ONU para avaliar a situação internacional, também criticou o pacote de Barack Obama. “Não é grande suficiente”, afirmou. Ele também lançou o filme “O mundo segundo Stiglitz”, em que explica as injustiças da globalização.

Na entrevista, o economista diz que os números do PIB divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) são surpreendentes. “Eu fui ao Brasil há poucos meses e me diziam que a crise não o afetaria. Parece que esse não é mais o caso. Muitos países emergentes estão se tornando as vítimas inocentes dessa crise. A ironia é que, enquanto o governo americano estava dando lições sobre regulações e instituições nos países emergentes, suas políticas eram um fracasso total. O problema é que, por causa disso, hoje a crise é severa em todo o mundo e países como o Brasil vão mesmo sofrer”, afirmou.

Emergentes

Stiglitz disse ainda que mesmo os países que fizeram a “lição de casa”, tiveram boas políticas e boa situação macroeconômica, vão ser afetados pela crise. “Esse é o caso do Brasil. Há apenas uma consolação em relação ao Brasil: sem o que o país fez nos últimos anos, a crise seria muito pior. O problema é que, agora, a situação pode piorar ainda mais”, analisou.

Sobre o pacote de Obama, ele disse que o presidente deu um passo adiante em relação ao ex-presidente George W. Bush. Mas não é o suficiente. “Bush estava paralisado e as coisas pioraram a cada dia sem ele fazer nada. Hoje, temos um pacote bem melhor do que a resposta em 2008. Mas não é suficiente e a crise vai ficar pior”, disse.

Para os “emergentes”, Stiglitz disse que a preocupação é de que muitos vão precisar de ajuda para superar a crise. “O dinheiro, se vier do FMI, terá de vir sem condicionalidades, como existiam no passado”, ressaltou. Segundo o economista, as exigências do FMI nos anos 90, que incluíam ordens para elevar juros e cortar gastos, levaram os “emergentes” à recessão. “O pior é que tudo o que o FMI disse naquela época está sendo recusado pela Europa e pelos EUA hoje. Essa é a hipocrisia”, enfatizou.

Globalização

Stiglitz também comentou o ressurgimento de uma tendência ao protecionismo. “Muitos pacotes têm medidas protecionistas em sua base e quem mais sofrerá serão os países em desenvolvimento. Esse é o caso do ‘buy American’. Mas a realidade é que a Organização Mundial do Comércio (OMC) é uma decepção. Hoje, vemos que mesmo a conclusão da Rodada não traria ganhos substanciais para os países emergentes”, afirmou.

Segundo o economista, os países ricos devem abrir unilateralmente seus mercados para os mais pobres do mundo. “Os países mais miseráveis serão tocados pela crise, mas não têm dinheiro para relançar a atividade econômica”, ressaltou. Para ele, a crise faz perdedores também entre os ricos. “No filme que fizemos, decidimos ir à China, Botsuana, Equador e outros países. Queríamos mostrar benefícios que de fato a globalização trouxe. Mas mostrar que perdedores também existem. O que não se pode esquecer é que esses perdedores também existem nos Estados Unidos. Siderúrgicas quebraram e os empregos foram mantidos nos Estados Unidos graças a investimentos indianos”, explicou.

Guerra no Iraque

Stiglitz disse ainda que a “globalização” é muito mais complexa do que o fluxo de comércio. “Agora, temos prefeitos americanos tentando convencer chineses a abrir fábricas nos Estados Unidos. Enquanto os Estados Unidos gastaram US$ 3 trilhões para ir à guerra no Iraque, em alguns lugares não se tem dinheiro para escola e saúde. A globalização moderna está criando coisas que nunca pensávamos que veríamos”, afirmou. Ele se diz surpreso com o tamanho da queda. “Eu previa que teríamos uma queda. Mas não sabia quando nem que seria desse tamanho”, destacou.

Stiglitz faz um paralelo com a crise de 30 e aponta a necessidade de uma ação global urgente e eficiente. “Há gente que pensa que, nos anos 30, as pessoas eram primitivas e que agora o mundo não deixará que a depressão ocorra. Muitas vezes escuto: não há perigo de depressão. Mas já tínhamos o conhecimento sobre a crise há dez anos e o FMI fez 40% da população da Indonésia perder o emprego. Conhecimento não é suficiente. Tem de usar politicamente agora”, enfatiza.

Com informações do jornal O Estado de S. Paulo