Ministros das Finanças e presidentes dos bancos centrais do grupo composto pelos 20 principais países “emergentes” e industrializados reuniram-se no sábado (14) em Horsham, próximo a Londres. Tratou-se de um encontro preparatório, visando uma linha comum para a cúpula do G-20, a se realizar em 1º e 2 de abril, na capital britânica, quando será discutido um plano de combate à crise econômica, assim como as perspectivas de uma nova ordem financeira mundial.

Porém, já no início do encontro, o anfitrião Alistair Darling, ministro britânico das Finanças, advertira sobre os diferentes pontos de vista defendidos pelos diversos países-membros do G-20, quanto à ênfase dada às medidas de combate à crise financeira. Enquanto os EUA defendem programas adicionais de apoio à economia, líderes europeus, como a premiê alemã, Angela Merkel, rejeitam a ideia de empregar ainda mais dinheiro de impostos em programas conjunturais.

Juntos, os países reunidos em Horsham representam 80% do rendimento econômico mundial. Em declaração conjunta divulgada na sexta-feira, os países “emergentes” que compõem o chamado Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), exigiram, por sua vez, o aumento das linhas de crédito através de instituições financeiras internacionais. No final do encontro, esse foi um dos pontos de consenso entre seus participantes.

O pedido dos quatro países “emergentes” se explica pelo fato de terem cada vez mais que lutar contra a evasão de capital provocada pela crise financeira. Como bancos e instituições financeiras internacionais concentram-se agora no saneamento de suas finanças e na distribuição de empréstimos nos mercados nacionais, o Bric exige que os recursos do FMI (Fundo Monetário Internacional) sejam claramente ampliados. Além disso, os quatro países querem uma maior participação nas decisões do Fundo.

Paraísos fiscais

O ministro brasileiro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que os países que compõem o Bric não aumentarão sua participação financeira no FMI enquanto seu direito de voto também não for ampliado. Por diversas vezes, o FMI tem dito que, no caso de uma crise duradoura, seus recursos não são suficientes para salvar países da inadimplência através de empréstimos. Na declaração final do encontro, os ministros não quiseram estipular números, mas ficou claro que estariam dispostos a aumentar “consideravelmente” os recursos financeiros do FMI.

Na semana passada, os EUA sugeriram triplicar para 750 bilhões de dólares os meios de ajuda de que o Fundo dispõe contra a crise. Os europeus querem que essa ajuda seja elevada somente para 500 bilhões de dólares. Os ministros das Finanças dos países-membros do G-20 também sugeriram a obrigatoriedade do registro de agências de avaliação de risco junto a órgãos nacionais de controle financeiro. As agências de rating foram bastante criticadas por haverem contribuído para as turbulências nos mercados financeiros, com suas avaliações benevolentes de papéis sem valor.

Devido à resistência de alguns países “emergentes”, não houve consenso quanto à adoção de uma linha dura para o combate aos paraísos fiscais, defendida principalmente pela França e pela Alemanha. Apesar disso, Merkel declarou que a reunião preparatória teria alcançado resultados importantes. Ela afirmou esperar que “outros passos se seguirão”, no encontro do G-20 em Londres. O documento final do encontro de ministros de Finanças apontou que os países do grupo se concentrarão no reaquecimento da concessão de empréstimos bancários, como forma de combate à crise econômica.

Programas conjunturais

Além da decisão de fortificar o FMI, os ministros reunidos em Horsham puseram de lado as divergências dentro do G-20 quanto a programas adicionais de apoio conjuntural. Eles deliberaram que cabe a cada país decidir sobre eventuais injeções financeiras para a economia nacional. Os EUA propunham um percentual fixo de 2% do respectivo Produto Interno Bruto (PIB), porém a UE rechaçava uma elevação drástica dos gastos e do endividamento público.

As expectativas quanto à cúpula no início de abril também diferem. Enquanto os EUA esperam da Europa impulsos mais fortes para o atual desenvolvimento conjuntural, a UE quer alcançar uma vigilância o mais estrita possível dos mercados financeiros. Segundo Merkel, a cúpula em Londres trará, sobretudo, “claros progressos regulatórios”. Brown aposta na cooperação do novo presidente norte-americano Barack Obama.

O premiê britânico salientou que os maiores programas conjunturais de todos os tempos já estariam em ação e que a ênfase deveria ser colocada agora na reforma da ordem financeira. Ambos veem na perspectiva de afrouxamento do sigilo bancário em países como Suíça e Liechtenstein uma primeira abertura em direção a uma nova ordem financeira. “Trata-se de um sinal de que os velhos paraísos fiscais não mais têm lugar neste novo mundo”, resumiu Gordon Brown.

Com informações da agência Deutsche Welle