Quando as serpentes paguem para ser serpentes
quando as serpentes paguem para ser serpentes
e o sol para ganhar seu pão recorra à greve –
quando o espinho olhe a rosa com suspeita
e o arco-íris faça seguro contra a neve
quando tordo nenhum puder cantar enquanto
todos os mochos não fizerem a censura
– e os mares tenham que fechar para balanço
se as ondas não tiverem posto a assinatura
quando o carvalho pedir vênia ao vidoeiro
para gerar seu fruto – o vale casse a vista
dos montes, porque são altos, e fevereiro
acuse março de ser terrorista
então acreditaremos nessa incrível
humanidade inanimal (e só aí)
40 Poem(a)s
E. E. Cummings
Tradução: Augusto de Campos
Editora Brasiliense –edição 1986