No fim do século 19 e início do 20 acentuou-se a emigração de intelectuais e artistas latino-americanos para a Europa, vista como a parturiente de todas as novidades. Eram atraídos pelas idéias estéticas em voga – cubismo, dadaísmo, surrealismo, criacionismo etc.,  e pela fácil exposição de suas re/criações ou mesmo pelas idéias políticas e ideologias que sugeriam grandes utopias – comunismo, anarquismo, os nacionais socialismos e outros ismos. Nesse cenário, acelerado pelas condições econômicas, culturais e políticas da América Latina, cresceu o êxodo de escritores e artistas daqui para o velho continente. No texto anterior falei de César Vallejo, hoje quero destacar a figura de Vicente Huidobro. Nascido em Santiago, Chile, em 1893, em uma família abastada, iniciou na poesia ainda na juventude. Publica seu primeiro livro “Ecos del Alma” em 1918. Ainda em Santiago publica seu manifesto Non Serviam que é o gérmen da teoria literária: o criacionismo, que está concretizada em seu poema “Arte Poético”, do livro “Espejo de Água”, de 1917, explicada e defendida em seus manifestos de 1925. Muda-se para Paris, em plena primeira guerra mundial, em 1916, tornando-se amigo de artistas que iriam revolucionar a arte daquele início de século. Conviveu com Apollinaire, Gris, Picasso, Arp, Miro Lipchitz e muitos outros. Escreve em francês livros como “Tour Eiffel, Horizon carrée, Saisons choisies e Automme régulier”. Viajou à Espanha aproximando-se dos poetas Gerardo Diego e Juan Larrea. Aí publica em 1918, “Poemas Árticos e Ecuatoria”l. Porém, é no Chile, em 1931 que publica suas obras mais significativas: “Altazor” e “Temblor de cielo”. Correspondente de guerra na revolução espanhola e na segunda guerra mundial. Seus dois últimos livros foram publicados  em 1941, “Ver y palpar” e “Ciudadano del olvid”o. Foi também ensaísta, romancista e dramaturgo,  destacando-se: “Mio Cid Campeador, La Próxima e Sátiro”, no teatro, “Gilles de Raiz”. Morreu em Cartagena, em 1948. Está sepultado em um promontório frente ao oceano Pacífico, sob o verso epitáfio “Abrid esta tumba, al fondo se vê el mar.”  Huidobro foi uma das grandes vozes de seu tempo. Inscrito nas vanguardas da época, construiu sua própria teoria, o criacionismo, onde vê o poeta como um criador que cria como os deuses, revelando através do discurso, da linguagem o mundo, os sentimentos e os dramas, companheiros permanentes do homem. Sua teoria criacionista pode ser entendida a partir do poema que procurei traduzir aqui par aos leitores.

 
Arte poética

Que o verso seja como uma chave
Que abra mil portas.
Uma folha que cai; algo passa voando;
O quanto vejam os olhos criado seja.
E a alma do ouvinte fique tremendo.

Inventa mundos novos e cuida de tua palavra;
O adjetivo, quando não dá vida, mata.

Estamos no céu dos nervos.
O músculo dependura-se,
Como lembrança, nos museus;
Mas nem por isso temos menos força:
O vigor verdadeiro
Reside na cabeça.

Por que cantais a rosa, oh! Poetas!
Fazei-a florescer no poema;

Só para nós
Vivem todas as coisas sob o sol.

O poeta é um pequeno Deus.