II

Boa noite , Isabel,
vagam verdes as duas luas de teus olhos
nesse verde luar ao lírio de teu rosto
e aos botões de rosa das rosas
de teus seios
sobre os bosques e mares de Diônisos.

E as redondilhas de seus versos cresçam
e o criador de verdes e de versos
nos cerque de jograis e de segréis.

Pelas várzeas a flor do trigo a flor
do linho a flor do decassílabo
de teu corpo ondulando entre os pinhais.

Entre a cintura e as ancas e o regaço
em teu passo de pássara inventavas
a graça nupcial das caravelas.

Boa noite, Isabel – e tu, Diônisos,
concede-me a beleza, a voz, a fala
dessa Isabel, rainha e musa e santa
e a voz também das musas do arrabalde
todas as Isabéis de Portugal.

E vamos, mãos dadas, com rosas e vinhos
nas ruas do alto, nas ruas da baixa
às margens do Tejo, à noite, ao luar,
na rosa do dia, os lenços no ar
chamar os marujos, cada um por seu nome
cantando galope na beira do mar.

Eles vão eles voltam, talvez nunca mais
quem sabe da selva das ondas do mar
partir é partir, voltar é voltar
mas parte com eles a voz das Marias
cantando galope na beira do mar.

Um dia a outro mundo eles hão de chegar
e o vento e as estrelas vão sempre levar
canções que de longe, na vida ou na morte
violas de amor saudosas das serras
das filhas do Douro num último olhar
nos lembrem perdidos por outras ribeiras
cantando galope na beira do mar.


Invenção do Mar
Gerardo Mello Mourão
Editora Record – edição 1997