O cientista político Gyula Thürmer, diretor da Fundação Hungria Neutra, de Budapeste, acredita que o “nascimento de uma situação revolucionária” é uma das possíveis consequências da crise do capitalismo na Rússia e na Europa Oriental. Thürmer, um dos principais expositores do Seminário Internacional sobre a Crise Mundial, palestrou às 250 pessoas presentes ao evento, no sábado (21), em São Paulo (SP).

O cientista político Gyula Thürmer, diretor da Fundação Hungria Neutra, de Budapeste, acredita que o “nascimento de uma situação revolucionária” é uma das possíveis consequências da crise do capitalismo na Rússia e na Europa Oriental. Thürmer, um dos principais expositores do Seminário Internacional sobre a Crise Mundial, palestrou às 250 pessoas presentes ao evento, no sábado (21), em São Paulo (SP).

Para o cientista político, o Leste Europeu inteiro — e não somente a Rússia — é um rico objeto de estudo para a esquerda. “A América Latina é mais relevante hoje, mas o Leste Europeu também é uma parte importante do mundo. São dez países, 295 milhões de habitantes, os maiores partidos comunistas da Europa e grandes lutas. É também a região do mundo onde o socialismo não foi apenas um sonho — mas uma realidade, em termos políticos, sociais e econômicos.”

À experiência socialista se sucedeu uma transformação que fragilizou o lado oriental da Europa. Com a crise, o Leste Europeu se tornou, segundo Thürmer, um dos “pontos mais fracos da cadeia atual do capitalismo, passível de revoltas sociais e até revoluções”. Para piorar, no rastro da crise, “as eleições para o Parlamento Europeu demonstraram uma forte virada para a direita. Em todos os países da região os partidos da direita ganharam as eleições”.

A situação russa se distingue dessa tendência, mas, na opinião de Gyula, é equivocada a impressão de que “a Rússia não tem parte no capitalismo contemporâneo. Há pessoas que ainda tratam a Rússia como um ‘país de comunistas e ursos’”. O cientista político frisa elementos econômicos russos como o “papel decisivo do capital financeiro e do capital na produção de gás e petróleo”. Além disso, sua indústria petrolífera é dependente do comércio internacional e, inevitavelmente, retraiu com a crise.

“Como o capitalismo depende hoje da Rússia, o país pode se tornar mais participativo na política internacional — só que com uma atuação pró-ocidental e sob dependência das forças imperialistas”, analisa Thürmer. Ele também afirma que a economia nacional vai se fortalecer, com incentivos sobretudo a grandes empresários.

Sociedade mais desigual

Outro aspecto marcante da crise na Rússia se revela nos graves impactos sociais, como a elevação do desemprego e da pobreza, além da deterioração do sistema de saúde. As desigualdades se tornam mais agudas — sem contar o arrocho salarial e a inflação em alta, que prejudicam as camadas mais pobres da sociedade.

De acordo com Gyula Thürmer, é justamente essa conjuntura, somada aos protestos crescentes, que pode levar a uma etapa de ascenso das forças de esquerda — tanto na Rússia quanto no Leste Europeu. Mas essa “situação revolucionária”, segundo o cientista político, ainda não está dada nos dias de hoje.

O Seminário Internacional sobre a Crise Mundial, encerrado neste domingo (21), foi promovido em parceria por PT, PCdoB, Fundação Maurício Grabois, Fundação Perseu Abramo e Rede Ipes/Corint.

De São Paulo,
André Cintra