“Muitos tentam isolar a crise financeira, da cíclica, da alimentar. Mas a crise é uma só: a do capitalismo”, afirmou neste sábado (20) Avtar Sadiq, membro do Partido Comunista da Índia-Marxista (CPI-M). Para Jorge Benstein, economista e professor na Universidade de Buenos Aires, estamos vivendo uma crise “civilizatória da burguesia”. Ambos foram convidados do Seminário Internacional Sobre a Crise Mundial, promovido por PT, PCdoB, Fundação Maurício Grabois, Fundação Perseu Abramo e Corint.

“Muitos tentam isolar a crise financeira, da cíclica, da alimentar. Mas a crise é uma só: a do capitalismo”, afirmou neste sábado (20) Avtar Sadiq, membro do Partido Comunista da Índia-Marxista (CPI-M). Para Jorge Benstein, economista e professor na Universidade de Buenos Aires, estamos vivendo uma crise “civilizatória da burguesia”. Ambos foram convidados do Seminário Internacional Sobre a Crise Mundial, que se encerrou neste domingo (21), contando com a participação de 250 pessoas, e foi promovido por PT, PCdoB, Fundação Maurício Grabois, Fundação Perseu Abramo e Corint.

(- Veja ao final da matéria fotos do debate)

Durante o debate “Diagnóstico da crise: natureza, profundidade e extensão”, a vitória das teses marxistas diante da crise atual ficou em evidência. Porém, “os marxistas não ficam felizes porque seu ponto de vista foi provado às custas de milhões de vítimas do capitalismo. Os marxistas trabalham para garantir que os trabalhadores não estejam sujeitos a essas crises”, destacou o indiano Sadiq.

Partindo de uma análise marxista, ele agrega que o desenvolvimento do capitalismo levou a sua centralização e concentração. “O peixe maior come o menor e esse processo levou ao surgimento do imperialismo e a globalização do capitalismo. Foi uma maneira de recolonizar financeiramente os países do 3º Mundo.”

A origem desse processo se deu a partir da nova ordem mundial: o neoliberalismo imposto pelos EUA após o colapso do leste europeu. “Foi a orientação neoliberal das privatizações que ampliou as linhas de lucro e fez surgir a globalização da crise financeira. Esse crescimento gerou um processo sem trabalho, o que levou a um futuro sem esperança para os trabalhadores”, lamenta Sadiq, que também é dirigente da Associação dos Trabalhadores da Índia.

Crise civilizatória

Segundo o argentino Benstein, a crise atual é de superprodução crônica, gerada num processo de fincanceirização do consumo, que levou a uma hipertrofia cada vez mais forte da massa financeira. Ela não reproduz nenhum padrão de crises anteriores, nem suas velhas soluções. Teve início há cerca de 40 anos atrás, quando inicia uma desaceleração das taxas de crescimento da economia mundial.

Somado a esses fatores, entre outros, está a crise energética enfrentada pelos EUA no final dos anos 60, início dos anos 70. A saída americana para o esgotamento do petróleo foi a superexploração dos recursos naturais renováveis e não renováveis de outras nações, o que e teve impacto na atual crise da indústria de alimentação.

“Não há uma casual convergência de crises (financeira, alimentar e energética), há uma interação em seu conjunto. São crises que estouram todas ao mesmo tempo e com o mesmo processo. Se são tantas crises, então ela é uma: a crise de civilização burguesa. Uma depredação gigantesca. Uma sucessão de crises de superprodução que geraram o capitalismo parasitário, que agora deixa de ter crises de superprodução para passar a uma crise de destruição das forças produtivas”, argumenta Benstein.

Um tiro no pé

Sadiq expressou bem a depredação citada por Benstein. Ao enumerar dados sobre o crescimento vertiginoso da fome mundial, especialmente entre as crianças, o indiano lembra que isso não acontece por falta comida, mas porque as pessoas não conseguem pagar os altos preços dos alimentos. “Mais de 80% da população mundial vive em países com desigualdades sociais”, alerta.

Agora o capitalismo vive a crise porque o que ele produz não é consumido. “O capitalismo não cria apenas objetos para sujeitos, mas também sujeitos para objetos”, sintetiza Sadiq. Então ele incentiva empréstimos aumentando seus lucros. A inadimplência destes empréstimos tornou o sistema deficiente. “A dinâmica herdada do capitalismo e sua direção histórica se tornam uma praga, destruindo parte do sistema produtivo, mas mantendo suas veias. Agora esse sistema parece ter chegado ao seu curso máximo.”

A incoerência desse sistema incide no fato de que a crise da agenda neoliberal está tendo mais impacto nos países de 1º Mundo e do que nos de 3º. Neste sentido, Sadiq aponta para a necessidade de os marxistas desenvolverem mais o aspecto das “contradições imperialistas”.

A alternativa à crise

Para o indiano, a crise capitalista atual demonstra o vazio da eternidade do capitalismo. “O único sistema alternativo ao capitalismo é o socialismo. As alternativas para a crise propostas pelo capital financeiro só levam em consideração o lucro rápido e não se preocupam em potencializar a indústria e o desenvolvimento real.”

O economista argentino conclui que, embora não se possa afirmar o tempo de duração da crise, uma vez que não há parâmetros históricos para diagnósticos, “os Estados Unidos e a Inglaterra vão buscar preservar a sua hegemonia no mundo e devem recompor seu sistema”. Por outro lado, ele destaca que esse plano enfrentará resistências. “As revoluções (Russa, Chinesa, Cubana) permanecem na memória e na cultura dos nossos povos e foram concretizadas na realidade do nosso continente. Elas fazem parte do nosso patrimônio cultural.”

Neste espírito, Sadiq agrega: “as atuais medidas frente à crise são para reformar o sistema, que só se mantém a custo das pessoas, e evitar o socialismo”. Na sua análise, “nenhuma reforma vai libertar a exploração do homem pelo homem, só o socialismo. Por isso, é imperativo o fortalecimento dos movimentos populares para romper com esta crise e levar adiante o sonho socialista”.

De São Paulo,
Carla Santos

– Abaixo fotos do debate: