Luta, desenvolvimento e integração: a receita contra a crise
Durante o Seminário Internacional Sobre a Crise Mundial, membros de governos, partidos e movimentos sociais apontaram a mobilização, o desenvolvimento nacional e a integração regional como ingredientes indispensáveis ao enfrentamento da crise econômica. O evento, que contou com a participação de 250 pessoas, — e foi promovido por PT, PCdoB, Fundação Maurício Grabois, Fundação Perseu Abramo e Rede Ipes/Corint —, reuniu cinco países para debater o tema no último domingo (21).
Paraguai busca fortalecer coalizão
“O governo de Fernando Lugo (presidente do Paraguai) foi fruto de ampla coalizão, com grande peso dos setores conservadores, com o desafio de realizar mudanças. O Congresso Popular (em 19 de junho), que reúne as esquerdas políticas e sociais, quer repotencializar essa coalizão para a atual conjuntura política”, enfatizou Gustavo Codas, assessor da Presidência da República do Paraguai, na abertura do painel “A reação de governos, partidos de esquerda e movimentos sociais frente à crise”.
Entre as medidas do governo Lugo frente à crise, Codas destacou a expansão do programa de renda mínima, reforço dos setores da economia nacional, produção local e industrial, proteção destes setores e desenvolvimento de obras públicas para garantia de empregos no país.
Para ele, a integração regional é de fundamental importância neste período que definiu como “capitalismo agressivo”. “Só os governos e partidos políticos podem discutir para que a integração possa ser saudável para todos os países e que não gerem novas tensões no interior da região e contra a integração. As esquerdas abrem possibilidade de superar essa fase neoliberal.”
Argentina mergulhada em eleições
O secretário geral do Partido Comunista da Argentina, Patrício Echegarray, discorreu sobre o processo eleitoral em curso no país. “A Argentina vem de um processo de crescimento com taxas muito altas. Baixou a pobreza e a indigência. Porém, há uma crise de governabilidade onde o bloco histórico dos agroexportadores estão contra a intenção correta de cobrar mais impostos dos exportadores. É um plano de reação dos setores conservadores para 2010 com o intuito de voltar o neoliberalismo”, resumiu.
“Nestas condições, as crises do capitalismo central está sendo respondida com medidas avançadas e buscamos um programa com profundidade, aquecendo o mercado interno com relação ao mercado externo. Buscamos também mais fomento à economia popular e cooperativas, que tem tudo que tem a ver com economia social.”
Para Echegarray, é preciso constituir a unidade do campo popular. Neste sentido, ele informou que o Partido Comunista argentino reivindica uma ampla frente de coalização. “Há uma perda do espaço do governo no parlamento. É preciso entender que o inimigo principal da Argentina são as forças conservadoras. O desafio é construir a unidade popular”, destacou.
O massacre indígena no Peru
Hilda Carrera, da área de relações internacionais Partido Socialista do Peru, lembrou que seu país e a Colômbia estão na contra-mão do processo democrático em curso na América Latina. “Alan García (presidente do Peru) e Álvaro Uribe (presidente da Colômbia) são os que defendem o modelo neoliberal no continente. Eles estão entregando a Amazônia aos EUA”, denunciou. Em defesa do desenvolvimento do continente ela propõe uma agenda política para defender a Amazônia.
A liderança também agradeceu a solidariedade da região aos indígenas mortos no começo de junho, durante duros confrontos entre policiais e manifestantes contrários à decretos de García, 34 pessoas morreram. “Cerca de 27 deputados chilenos se manifestaram contra a violência do massacre indígena no Peru. Esperamos que o governo retroceda no conjunto dos decretos leis para a Amazônia.”
Ela finalizou sua apresentação defendendo maior diálogo entre os povos indígenas da Bolívia, Colômbia e Peru. “A esquerda peruana precisa aprofundar seu debate sobre identidade com os povos indígenas e amazônicos e enfrentar a mídia, que cobre de maneira distorcida as nossas ações em defesa da Amazônia”, enfatizou Hilda.
Cuba e Obama e quais mudanças
Para Orlando Silva, do Partido Comunista de Cuba, “a crise é integral e abarca diversos setores multifacetados”. Diante deste cenário, o dirigente destacou que o princípio da Ilha socialista “é não deixar um só cubano desamparado”. Para ele a crise é uma oportunidade de lançar a luta anti-capitalista. “Hoje, mais do que nunca, temos uma correlação de força mais favorável de oposição ao imperialismo no continente.”
Silva realizou uma breve análise sobre a postura do governo Obama com relação a Cuba. “Somos um país que sofre bloqueio dos EUA já há 50 anos. Recentemente sofremos muitos estragos por fenômenos naturais. Contudo, não vamos nos abater, defendemos um sistema para todos”, disse.
Algumas ações positivas do governo Obama foram destacadas pelo cubano. Entre elas, o fim das restrições de remessas e viagens entre EUA e Cuba e a ampliação do acesso à internet e a alguns produtos para a Ilha. “Estamos dispostos a conversar sobre todos os temas com respeito e igualdade com o governo americano”, afirmou. Ele cobrou o recuo de Obama quanto ao fechamento de Guantânamo, a devolução dos cinco heróis cubanos presos nos EUA e o fim da proteção americana ao criminoso Posada Carriles.
Unidade e luta no Brasil
Nivaldo Santana, vice-presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), destacou que o momento tem um nome especial: “o desemprego, a face mais dramática da crise”. Ele defendeu a luta por um projeto de desenvolvimento com integração regional em todos os níveis para fazer frente às demissões. “O 2º Fórum Nostra America, a se realizar no final do ano aqui no Brasil, será um grande momento para discutir uma plataforma comum dos trabalhadores para enfrentar este período.”
Após definir a CTB como uma central que luta pelo socialismo e expor as principais bandeiras da entidade, Santana afirmou que a reação do movimento sindicalista passa por luta e unidade. “Propomos uma nova conferência nacional da classe trabalhadora, com uma coordenação comum entre todas as centrais para desenvolver uma agenda unificada contra a crise.” Ele ainda comentou as eleições de 2010: “nesta a batalha eleitoral temos que impedir a volta o neoliberalismo para aprofundar as mudanças”, concluiu.
Último orador do painel, Artur Henrique, presidente da CUT, lembrou que Empresários se aproveitaram da crise para fazer propostas de flexibilização do trabalho, redução dos salários, e demissões. Ele avalia como corretas as medidas do governo Lula frente à crise, porém as considera insuficientes. “Queremos contrapartidas dos setores econômicos ajudados pelo governo. O principal é garantia do emprego.” No dia 14 de agosto, Henrique informou que acontecerá o Dia Nacional de Luta Contra as Demissões.
“Após a crise, qual é o futuro”, questionou a liderança. “Nós corremos o risco de disputar a nova ordem de democracia mundial. Queremos um novo paradigma de desenvolvimento. Quando traremos para o grande debate dos Brics (Brasil, íNdia, China e Rússia) a questão da realidade dos trabalhadores?”, questionou. Ele considerou como prioridade a integração regional e o emprego decente como medidas frente à crise.
De São Paulo,
Por Carla Santos