Na manhã de quinta-feira (6), a Fundação Mauricio Grabois recebeu o professor Miguel Bruno, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Tal atividade faz parte do projeto “Conversando com Princípios” e debateu um dos temas mais relevantes de nosso tempo: a financeirização da economia. Na abertura do debate, o diretor de Estudos e Pesquisa da Fundação Maurício Grabois, Sérgio Barroso, que coordenou o evento, expôs aspectos da financeirização da economia e ressaltou a importância do tema na elaboração de um novo projeto de desenvolvimento nacional.

Por Luiza Barbosa Pereira*

Na manhã de quinta-feira (6), a Fundação Mauricio Grabois recebeu o professor Miguel Bruno, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Tal atividade faz parte do projeto “Conversando com Princípios” e debateu um dos temas mais relevantes de nosso tempo: a financeirização da economia.

Na abertura do debate, o diretor de Estudos e Pesquisa da Fundação Maurício Grabois, Sérgio Barroso, que coordenou o evento, expôs aspectos da financeirização da economia e ressaltou a importância do tema na elaboração de um novo projeto de desenvolvimento nacional.

Por Luiza Barbosa Pereira*

Em sua exposição, o professor Miguel enfatizou o potencial de crise a partir da evolução econômica nacional. Nesse ponto, segundo ele, destacam-se alguns elementos centrais: a baixa taxa de crescimento econômico – que gera a baixa taxa de acumulação de capital fixo produtivo -, o crescimento exponencial dos ativos financeiros e renda de juros – pelo qual o capital financeiro recebe cerca de 29% do PIB em juros -, a hegemonia do capital bancário, a perda de participação da indústria no PIB – que também gera uma “commoditização” das nossas exportações e, consequentemente, a concentração funcional de renda e queda da parcela salarial no PIB.

Sendo assim, disse o professor, se compararmos principalmente com os países asiáticos o modelo econômico brasileiro não tem dado certo. Por sermos um país em vias de desenvolvimento, a taxa de crescimento que o Brasil necessita – como país “emergente” – deveria estar em uma média muito superior.

Retomada do crescimento

Ele detalhou a financeirização do regime de acumulação de capital, um processo que conta com uma arquitetura internacional. Miguel Bruno explicou que essa macro-estrutura impede o Banco Central de jogar a taxa de juros básica, a Selic, “lá para baixo”. Assim, a Selic alta puxa a dívida pública para as alturas. O economista também criticou a o câmbio valorizado, que igualmente beneficia a financeirização da acumulação de capital.

Miguel Bruno não deixou de lembrar que nosso país tem vivido, no período recente, uma retomada do crescimento nacional, a partir do governo Lula. Esse tem sido promovido principalmente pelo reforço nas políticas sociais – tais como o bolsa-família -, do preço das commodities – que ainda estão abaixo dos emergentes – e do aumento do salário mínimo. Tais medidas proporcionam de fato o crescimento e são extremamente importantes. No entanto, esse crescimento é frágil, de curto prazo e inferior ao dos países em vias de desenvolvimento.

Para ele, se compararmos, por exemplo, a atual taxa de acumulação de capital fixo com o período do I Plano Nacional de Desenvolvimento, o momento atual está muito aquém. Nesse cenário a geração de emprego fica extremamente comprometida.

Títulos públicos

Miguel Bruno destacou que vivemos ainda um outro fenômeno extremamente prejudicial ao desenvolvimento econômico nacional: a financeirização das indústrias. Segundo ele, para o capitalista é muito mais proveitoso investir no cassino do rentismo internacional e não no setor produtivo. Nesse processo, os lucros são mais instantâneos e o capitalista “foge” do conflito entre capital e trabalho.

O professor ainda destacou que uma das hipóteses explicativa para esse fenômeno é que o modelo atual de política econômica – arquitetado por Collor e intensificado por FHC através do aprisionamento do setor público – está voltados para os interesses rentistas.

No Brasil, disse ele, cerca de 20 mil famílias detém 80% dos títulos públicos. Essa parcela mínima da sociedade concentra grande parte da riqueza produzida e tem como fonte de sua lucratividade o ganho imediato, sem esforço, com base de investimento no capital especulativo.

Sendo assim, a concentração de renda e a permanência das desigualdades no país se mantêm alta e o Estado, altamente emaranhado na dívida pública interna e no pagamento de juros – que é o eixo da acumulação rentista – deixa de investir em políticas sociais, essenciais para o bem estar do povo.

*Diretora de Comunicação da Associação Nacional de Pós-Graduando (ANPG) e mestranda em ciências sociais e do trabalho na UFRJ.